terça-feira, 14 janeiro, 2025
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Felipão: uma “pesada” combinação sulista

Luiz Felipe Scolari
Luiz Felipe Scolari

Nunca fui chegado ao futebol.

Mas não posso ignorar esse fenômeno de massa de hipnotiza a Nação, motivo pelo qual até acabo identificando a fisionomia de certos jogadores da Seleção. Coisa que já não acontece quando me falam de atores e atrizes de televisão e suas novelas.

A verdade é que passo longe dos folhetins da TV, talvez até por preconceito: sou ex-devotado consumidor de bom teatro, acostumado a assistir Walmor Chagas, Cacilda Becker, Tônia Carrero, Ary Fontoura, Paulo Autran…

Outra expressão fortíssima da gente brasileira, a religiosidade popular, está no meu inventário das mais caras preferências.

Então, voltando ao futebol: sempre soube que técnico de uma equipe é como o diretor de um “ballet” ou de uma peça de teatro ou de cinema – é um ‘meteur-en-scène’.

Nele, em última instância, vai repousar a possibilidade de sucesso ou insucesso da equipe. E a equipe, quer se queira, quer não, levará sempre para o gramado muito da herança, do acervo d’alma do técnico.

Bandeira do Rio Grande do Sul
Bandeira do Rio Grande do Sul

2 – A VOZ DE COMANDO

No caso de Luiz Felipe Scolari, Felipão, o espírito que comanda as ações do técnico é carregado de acentos nada leves.

E o time tem, pois, de refletir as escolhas e as direções passadas pelo técnico, o “coach” dos americanos.

A alma do ‘coach’ – ou seu tipo psicológico, como queiram – acabará sendo a voz de comando do espetáculo. Para o bem ou para o mal.

Por esse motivo, conhecer a ‘anima’ do líder é ponto de partida essencial para se entender sobre como os liderados (a equipe) se comportarão.

Nascido em terras gaúchas (embora criado desde os 8 anos no Paraná), acostumado a ‘estudar’ tipos humanos daquele enorme “melting pot” sul-rio-grandense, não temo em dizer:

Felipão mostrou no comando da Seleção algumas das marcas mais fortes (e por vezes lamentáveis) dos gaúchos.

Getúlio Vargas
Getúlio Vargas

3 – TEIMOSIA VÊNETA E CHARRUA

A teimosia de Felipão é dos italianos, a de seus avós vênetos, que também tinham origem germânica (nenhuma novidade na afirmação).

E a atmosfera em que o técnico foi criado é de uma ampla hibridez, germânica e italiana, em boa parte do RS, mas também recheada pelo temperamento pouco maleável dos portugueses e espanhóis que, com os índios charruas, traçaram o DNA do gaúcho.

É preciso, no entanto, fazer justiça: não só de espírito autoritário e belicoso, acostumado a dar voz de comando, é feito, o gaúcho.

Leonel Brizola
Leonel Brizola

A lealdade e a capacidade de acolher o próximo são também traços de sua personalidade. Assim como é amplamente conhecida a acuidade dos gaúchos para a uma boa formação escolar/cultural. São sinais positivos que não eliminam – por vezes até ajudam a acentuar – espíritos teimosos, acostumados a guerrear contra a própria sombra, ‘pagando para ver’ as consequências de suas apostas.

Não importando se apostas até previamente identificadas como desastrosas.

4 – RESISTIR, COMO?

Flores da Cunha
Flores da Cunha

Esse tipo humano, aqui rapidamente descrito, presidiu os jogos da Seleção. Dele Felipão jamais se desfaria. É da sua natureza em si. Disso sempre souberam os que conhecem a alma gaúcha instalada na Granja Comary. Até porque não é fácil resistir à dialética de gente criada à sombra de histórias heroicas de grandes modelos como Getúlio, Flores da Cunha, Borges de Medeiros, Brizola, Julio de Castilho, Alberto Pasqualine, Daniel Kruger…?

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