Por Eloi Zanetti* – Por questões de agenda, conforto e praticidade, muitos executivos têm trocado “almoços de negócios” por “cafés de negócios.” É simples: marcam reuniões em padarias, principalmente ao final da tarde, para conversar com seus clientes e parceiros sobre projetos, vendas e andamento de trabalhos. Hoje, existem bons estabelecimentos onde se pode sentar, ficar à vontade e pedir variados tipos de sanduíches, sucos e doces. Com isso, ganham tempo e fazem a refeição da noite mais cedo.
O ambiente informal das padarias deixa as pessoas mais espontâneas e, em consequência, as conversas correm mais soltas. Nada de pedidos demorados, complicações com cardápio e exibições de “enochatos” na escolha de vinhos. Deve-se fazer isto com pessoas com quem se tem intimidade, não se costuma convidar clientes novos ou muito formais para reuniões em padarias, mas acredito que, se os convidassem, muitos adorariam.
O conceito de padaria mudou muito nos últimos tempos, algumas se transformaram em verdadeiros pontos de encontros e abrigam diferentes tipos de atividades: cafeteria, pizzaria, revistaria, loja de conveniência, bistrô, acessibilidade para web, estacionamento com manobristas e algumas funcionando 24 horas. Se duvidar, vendem até pãozinho francês. E este, aos poucos, perde seu posto de carro-chefe de vendas e de principal atração. Hoje, existem pães com ervas, grãos, multimisturas e étnicos para todos os gostos: italianos, alemães, portugueses, indianos, árabes, argentinos e até australianos. É a globalização tomando conta do sacrossanto lugar de se comprar pão.
No entanto, mesmo em padarias, bares e botequins existem procedimentos ritualísticos sobre o trato de negócios à mesa. A experiência recomenda escolher um estabelecimento de fácil acesso, estacionamento, pontualidade e não se esquecer de levar cartões de visitas, bloco de anotações e canetas. Deve-se preferir ambientes que permitam privacidade para que a conversa se desenrole à vontade – as mesas devem guardar distância umas das outras, para que a conversa não seja ouvida por estranhos – em negócios, sigilo é fundamental.
Nas reuniões onde os interlocutores não se conhecem bem, a conversa precisa esquentar um pouco, antes de entrar no assunto principal. Nestas ocasiões, conversa-se sobre tudo: família, futebol, esportes, hobbies, empresas e um pouco de si mesmo. O clima de sondagem mútua é necessário como introdução ao objeto da reunião e, uma vez dentro dele, é melhor ouvir mais do que falar. Por mais ansioso que se esteja para fechar um negócio, cuidado com o excesso na exposição dos motivos, pois poderá perder o senso de timing, entregar o ouro antes do tempo, lembrar ao outro sobre a concorrência e soltar informações desnecessárias. E, em se tratando de valores, siga o conselho árabe: não seja você o primeiro a falar de preços.
Ainda não existem livros sobre “etiqueta nos negócios à mesa de padarias”, mas alguns cuidados básicos e regras de boas maneiras devem ser tomados. Não é por estarmos em um ambiente informal que podemos relaxar no trato social. Percebe-se se uma pessoa é educada ou não pela sua maneira de se comportar à mesa. Já vi candidatos a altos cargos serem refutados e algumas carreiras estacionarem porque seus protagonistas não sabiam se comportar com dignidade nessas ocasiões.
Lembre-se – a palavra companheiro é originária de “cum panis” – aquele que reparte o pão.
*Eloi Zanetti é publicitário, referência em comunicação corporativa e empresarial, e colunista do Mural do Paraná.