O médico Drauzio Varella esteve em Curitiba, na quinta-feira (30), com a missão de pôr fim ao mito de que o leite faz mal. A palestra foi realizada no Teatro Positivo e promovida pelo portal “Beba Mais Leite”.
Não há nisso qualquer interesse. Varella participa porque abraça a causa e não o contrário e vem percorrendo o país para convencer a população dos benefícios que o consumo do leite pode proporcionar.
MÁ FAMA
Tratemos, pois, de suas afirmações. Varella diz que o leite parece ter alcançado a mesma má-fama da carne. Não a carne que protagonizou a operação da Polícia Federal, mas a carne que tem “excesso” de colesterol e provoca “ataques cardíacos”. “O problema não é o alimento, o problema é o exagero”, diz.
FONTE DE ALIMENTO
Aqueles que combatem o consumo de leite são categóricos: nenhum mamífero adulto toma leite, donde nenhum homem adulto deve fazer o mesmo. Ora, esse raciocínio é questionável. Por que a onça não toma leite?, indaga Varella. Ora, pelo mesmo motivo que não toma chope. Porque seu organismo não desenvolveu tolerância para uma bebida fermentada. O médico diz que desde que o homem desceu das árvores, há seis milhões de anos, passou a encontrar no leite uma fonte de alimento. Mas isso não ocorreu da noite para o dia. Foi preciso primeiro desenvolver uma tolerância à lactose.
“Somos descendentes dessas pessoas que tomaram leite e se alimentaram melhor”, diz. “Pela mesma razão, podemos nos dar ao luxo de tomar um chope, que não deixa de ser um alimento e para o qual também é preciso uma adaptação do organismo”.
TROCA DE ESQUELETO
O leite do ponto de vista médico é essencial para toda a vida, porque contém cálcio, contribui para a ossificação e o estímulo das membranas.
Diz o médico: “A cada dez anos, nós trocamos o esqueleto inteiro. Uma pessoa de 50 anos, por exemplo, já trocou de esqueleto cinco vezes. O leite contribui decisivamente nesse processo”.
FONTE DE CÁLCIO
Claro, diz ele, seria possível substituir o leite por outra fonte de cálcio. As verduras escuras, por exemplo. Mas para consumir o 1 grama necessário diariamente seria preciso comer um quilo delas. Não é uma tarefa fácil.
EPIDEMIAS
A palestra de Varella não se resumiu ao combate àqueles que demonizam o leite. Ele está preocupado com os maus hábitos alimentares e o sedentarismo, estes sim apocalípticos (o que não é uma expressão exagerada). As grandes epidemias do mundo moderno, segundo ele, são duas: a diabetes e a pressão arterial. E ambas estão intrinsecamente ligadas à alimentação e à falta de exercícios. “O conforto trouxe a oportunidade de trabalhar sem sair da cadeira. Quem inventou o controle remoto, o fax, o computador, o celular, que provoca dores na coluna cervical, foi o diabo”, exagera. “Ele deve estar muito feliz”.
SEM MEMÓRIA
Varella relata ainda um teste de memória feito com usuários abnegados do celular. Em um primeiro momento, não houve restrição para utilização do aparelho. No segundo momento, eles sequer puderam portá-lo. O estudo, depois convertido em reportagem para a prestigiada revista “Science”, mostra que os níveis de memória caíram muito quando o celular ficou ligado ou à vista do usuário, mesmo estando desligado.
“Os níveis de tensão e de ansiedade multiplicaram-se com o uso do celular e nós não sabemos a consequência da vida com esse problema”, alerta Varella.
É um caso para reflexão ora em diante.