HomeMemorialDom Àlvar Núñez Cabeza de Vaca atravessa o Paraná

Dom Àlvar Núñez Cabeza de Vaca atravessa o Paraná

Aventureiro tem história pouco conhecida pelos brasileiros. Quando alguém a conhece, começa a fazer parte de um “fã clube” imaginário, tal como Campana, Markun e Lachini

 

Por Eloi Zanetti

Por que não dar o nome da rodovia BR 277 (Ponta Grossa/Foz do Iguaçu) de Rodovia Cabeza de Vaca e parte da que faz Cascavel/Guaíra o nome de Aleixo Garcia?

Paulo Markun, em uma entrevista quando do lançamento do seu livro sobre o aventureiro, disse ser a sua história é pouco conhecida pelos brasileiros e, quando alguém a conhece, começa a fazer parte de uma espécie de fã-clube imaginário do personagem. Foi o que aconteceu com o jornalista e escritor Fábio Campana, escritor do livro “Os últimos dias de Cabeza de Vaca”, e do jornalista Claudio Lachini, ex-diretor da Gazeta Mercantil no Paraná, que em setembro de 2002 escreveu uma extensa matéria sobre o aventureiro, comparando suas observações com as riquezas e possibilidades agrícolas da região de Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçu.

OURO, PRATA E PODER

Em 18 de outubro de 1541, o explorador espanhol Cabeza de Vaca entrou pelo rio Itapocu – entre Florianópolis e São Francisco do Sul -, com 250 homens e 26 cavalos e após 19 dias venceu as escarpas da Serra do Mar chegando às cabeceiras do rio Iguaçu, na localidade Tindiquera, onde hoje localiza-se a Refinaria da Petrobrás em Araucária. Sobe ao segundo planalto e nas imediações de Ponta Grossa encontra o rio Tibagi. De lá entra pelo Caminho do Peabiru, já conhecido pelos indígenas como – o caminho gramado, antiga rota pré-colombiana que unia o litoral paulista ao peruano no Oceano Pacífico. Este caminho já havia sido percorrido por Aleixo Garcia, náufrago português, remanescente da expedição de Juan Diaz de Solis descobridor do rio da Prata em 1516. A expedição segue esta rota em direção a Assunção,  cidade fundada em 1537, onde Cabeza de Vaca deveria assumir o cargo de governador da Província do Rio da Prata e procurar os incríveis tesouros citados e comprovados por Aleixo Garcia.

A experiência adquirida no trato com os indígenas do México e dos Estados Unidos ajudou-o muito, pois foram recebidos com cordialidade e abastecidos com mandioca, milho, mel e caça. Ao acampar perto de Vila Velha (Itaperuzu – anta grande de pedra) apareceu um índio que vivera muito tempo entre os espanhóis em Assunção e se dispôs a guiá-los até lá. A notícia da passagem de uma grande expedição de homens brancos atraia índios de todas as regiões que vinham espontaneamente para conhecer os visitantes. Como não conheciam cavalos, os animais causavam grande espanto e admiração.

A expedição e obras sobre o Cabeza de Vaca

TERRA BOA DO OESTE

“Hay grandes campinas de tierras, y muy buenas, águas, rios, arroyos e fuentes y arboledas y sombras, y la más fértil tierra del mundo, muy aparejada para labrar e criar y mucha parte de ella para ingenio de azucar, y tierra de mucha caza […]” escreveu Pero Hernándes – secretário da expedição em 1542.

PRIMEIRO EUROPEU A VER AS CATARATAS

Em 31 de janeiro a expedição alcança o rio Iguaçu na altura de onde é hoje a cidade de Dois Vizinhos. Informado por nativos amigos que um grupo de índios hostis os esperavam em emboscada e que seriam os mesmos que haviam dizimado a expedição de Pero Lôbo Ribeiro quando da travessia do Rio Paraná; Cabeza de Vaca decidiu dividir a expedição em duas – a primeira com 80 homens que desceu o rio Iguaçu em canoas e a segunda por terra. Ambas se encontraram quase na mesma data na confluência dos rios Iguaçu e Paraná. Cabeza de Vaca é considerado o primeiro europeu a ver as Cataratas do Iguaçu. Em 11 de março de 1542 a expedição chega a Assunção.

O ELDORADO EXISTIU

Os espanhois e portugueses da Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis, por relatos dos nativos, intuíam que viajando para o Oeste – Paraguai/Bolívia/Peru – se encontraria muito ouro e prata. A riqueza era tanta que o rei local era chamado de Rei Branco porque só se vestia com finas lâminas de prata. A confirmação veio em 1545 com a descoberta das minas de Potossi no Peru. O primeiro a se aventurar com tal intenção foi Aleixo Garcia, o português que ajudou a divulgar a existência de tais riquezas – Aleixo Garcia com mais de dois mil índios faz o caminho do Peabiru até Guaira e dali cruzou o Chaco em direção aos Andes onde, realmente, encontra muito ouro e prata. Repelido pelas tropas do inca Huayana Capac decide voltar ao litoral brasileiro. Acampado no Paraguai, foi morto em confronto com os guaranis. Ao todo Aleixo Garcia percorreu seis mil quilômetros cruzando boa parte do Brasil Meridional, a região do Chaco Paraguaio, Bolívia e Peru.

TRISTE FIM

Ao chegar em Assunção para assumir o governo, encontrou o local dominado de forma violenta, libertina e corrupta pelo grupo governante, chefiado por Domingos Martínez de Irara, remanescente da expedição de Pedro de Mendonza na fundação de Buenos Aires. Como essa cidade foi duramente atacada e massacrada pelos indígenas locais, ele muda-se para Assunção e assume o governo. Cabeza de Vaca vendo o péssimo estado administrativo da Provincia tomou ações regulatórias que desagradaram Irara e seus favorecidos. Uma onda de protestos e armações de calunias foram montadas contra ele que acabou sendo chamado à Madri para explicações e julgamento.

Fontes:

  • O Andarilho das Américas – Cabeza de Vaca – por Olavo Soares – Editado pela UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa
  • A incrível trajetória de Dom Álvar Núnez Cabeza de Vaca – Paulo Markun – Companhia das Letras.
  • Naufrágios escrito entre 1537 e 1540 – sobre sua aventura no México e Estados Unidos
  • Comentários – sobre a província do Rio da Prata
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