Diógenes. Vamos só chamá-lo assim.
No entanto, o Diógenes é parte de seu nome. O resto fica, por ora, resguardado. Pois a história desse cidadão de meia idade, 50 (?), psicólogo com mestrado, fluente em francês, com consultório no Batel, vive um desses absurdos do Brasil de hoje: o Brasil do chamado “pleno emprego”. Que é pleno apenas para os trabalhadores não qualificados e que recebem baixos salários. Para esses até sobram vagas, haja vista a mão de obra africana, haitiana e asiática que é disputada pelos empregadores brasileiros que a vão buscar sofregamente no Acre.
2 – QUANTO MELHOR, PIOR
O certo é que os titulares de melhores qualificações têm – na maioria das vezes – dificuldades de conseguir posições no mundo do trabalho compatíveis com sua formação profissional.
Diógenes, que conheci na tarde de domingo, 24, trajando uniforme de vigilante de um supermercado de Curitiba, no Batel, é o modelo exato dessa massa crítica universitária bem formada que pena para conseguir empregos. Até porque o trabalho ‘por conta’ é sempre “uma sorte grande” para certos graduados e pós graduados universitários.
3 – A LERDEZA DA JUSTIÇA
Pois o moço, prestimoso, colocou-se a me ajudar na hora de chamar um táxi e daí veio a descoberta: Diógenes (o da lâmpada?) é também uma das muitas vítimas da lerdeza do judiciário brasileiro: há 10 anos ele demanda contra a Universidade Federal do Paraná (UFPR), da qual diz ter sido psicólogo por 20 anos e “demitido injustamente”.
Não entro o mérito da demissão, pois não conheço o processo. Lastimo, apenas, que neste país uma pessoa esteja esperando há um decênio por decisão na Justiça Federal que dirá se pode ou não contar o tempo de serviço que ele despendeu na UFPR para efeito de futura aposentadoria.
4 – ORIENTADOR EM PSICÁNALISE
Discreto, o psicólogo não entra em detalhes sobre sua demanda contra a União. No momento, mais lhe preocupa a sua subsistência, motivo pelo qual enfrenta de 8 a 10 horas o trabalho de segurança no supermercado, uma função que não exige mais do que curso fundamental. “Preciso somar renda”, explica-me, enquanto, a meu pedido, entrega-me um cartão de visita profissional.
Fico sabendo, pelo cartão, que além de atendimento psicológico clínico, ele dirige sessões de Psicanálise, como orientador de grupos.
E no meio do diálogo, fico sabendo que tem dificuldades de retornar à cátedra.
Acho que isso ocorre porque não dispor, talvez, de boas redes sociais de relacionamento. E assim estaria sendo preterido na hora de contratações em universidades particulares, onde, boa parte das admissões pode depender, ainda, do QI.
O quem indica…