O jornalista Liones Rocha (in memoriam) produziu, durante anos, nas páginas do Jornal Indústria & Comércio, de Curitiba, anos 1990, uma coluna a que deu o nome de Palco & Plateia. A ideia que o espaço recuperasse, de forma agradável e com bom humor, certos momentos da vida política do Estado, caminhou muito bem. Foi um sucesso, na época.
Hoje eu revelo um episódio interessantíssimo, mostra de como também se pode fazer política com inventividade e criatividade, driblando preconceitos ou supostos preconceitos. E o episódio tem como ator principal o hoje candidato do PT ao Senado, ex-deputado Ricardo Gomide, 42. Coadjuvado por Orlando Silva.
2 – COMUNISTA EM ARAUCÁRIA
Pois foi assim: em 1994 um ex-prefeito de Araucária, cidade então marcadamente dominada por antigas famílias de origem polonesa e católicas conservadoras em matéria de política, resolveu apoiar o jovem Ricardo Gomide, uma liderança que então despontava no PCdoB, a deputado federal.
De saída, a barreira se impôs aos coordenadores da campanha de Gomide:
“Partido Comunista do Brasil e Araucária e sua gente não combinam”, alertaram os apoiadores do comunista. O sinal vermelho fazia todo sentido.
3 – “PARTIDO CRISTÃO DO BRASIL”
A barreira, no entanto, não derrubou o ânimo do pessoal da campanha e de Gomide.
A solução foi apresentar o candidato sob o nome de Ricardo Krachineski (a lei eleitoral permitia o registro de pseudônimo). Esse personagem de imediato ‘incorporou’ o Gomide, que sumiu, dando lugar a homem de suposta origem polonesa. Assim como também os coordenadores da campanha do jovem candidato a deputado federal chegaram a espalhar panfletos em áreas rurais apresentando Krachineski como candidato de um suposto “Partido Cristão do Brasil” (PCdoB?).
4 – SUPEROU ROSENMANN
Para completar o trabalho de ‘conversão’ completa de Gomide, e por sugestão de seu amigo Luiz Fernando Pereira, hoje advogado, foi chamado de São Paulo um “cobra” do PCdoB em campanhas eleitorais, Orlando Silva, que depois seria ministro do Esporte de Lula.
5 – EM TRÊS MESES
Não foi fácil fazer com que Silva deixasse SP para coordenar a campanha em Araucária. Só a intervenção final de Renato Rabello (hoje presidente e na época secretário geral do PCdoB) quebrou a resistência de Orlando.
Resultado: três meses de intensa campanha comandada por Orlando Silva deram a Gomide – ou Krachineski – impressionante votação. Acabou fazendo dois votos sobre cada um dado a Max Rosenmann, que então detinha o controle político de Araucária.