A Fundação Getúlio Vargas divulgou na semana passada, e a coluna publicou dia 9, quarta, o resultado de sua pesquisa Avaliação da Confiança nas Instituições, de 2014, realizada em diversos Estados.
O resultado não chega a surpreender: os partidos políticos têm 7% (numa escala de zero a 100) de confiança dos brasileiros.
Em compensação, as Forças Armadas, frequentemente lembradas pelos anos dos governos ditatoriais, mantêm-se em primeiro lugar, com 64%; e a Igreja Católica, sob cujas bênçãos a Nação nasceu, recebeu 54% de votos de confiança, tendo subido 6% em relação à pesquisa anterior. Ficou em segundo lugar.
O Ministério Público está em terceira posição, com 45% tendo evoluído 2% em relação ao ano passado.
2 – JORNALISTA, ADVOGADO E PROFESSOR
O jornalista Celso Nascimento, da Gazeta do Povo; o advogado e professor de Direito Luiz Fernando Pereira, e o professor emérito da UFPR e jornalista, Hélio Puglielli, dizem, a seguir, como veem os resultados:
Celso Nascimento:
“Se já era ruim, ficou pior. E se hoje está pior do que ontem, como será amanhã? Esta é a preocupante pergunta que nos impelem fazer os índices aferidos pela pesquisa da Fundação Getúlio Vargas sobre a confiança que os brasileiros depositam nas instituições. Forças Armadas e Igreja Católica figuram nos dois primeiros lugares, com 64% e 60% de confiança – índices maiores em relação aos aferidos no ano passado. Em sentido oposto, aumentou a desconfiança popular no Congresso, nos partidos e, consequentemente, nos políticos. O Congresso só é confiável para 17% dos brasileiros e apenas 7% ainda botam fé nos partidos. Falta pouquíssimo, portanto, para que estas instituições – ditas pilares da democracia – cheguem ao fundo do poço”.
3 – É MUITO SINTOMÁTICO
E conclui Celso Nascimento:
“É muito sintomática (e talvez até perigosa) a mutante percepção dos brasileiros. Se de um lado cresce a admiração pelas Forças Armadas e pela multissecular segurança que a Igreja inspira, observa-se forte decadência na outra ponta do complexo sócio-político nacional. Os primeiros evocam sentimento de respeito e esperança; os outros, de decepção e de descrença face, principalmente, à corrupção que patrocinam e praticam e à leniência e irresponsabilidade com que tratam as grandes questões nacionais.
Veja-se, no entanto, que está sobretudo nas mãos destes últimos o amanhã do Brasil. Depende do Congresso, dos partidos e dos políticos em geral dar resposta aos anseios das ruas, que no fundo representaram, no grito, tais anseios. Eles já provaram que sequer os ouvem, muito menos que estão dispostos a atendê-los.
O que esperar daqui pra frente? Eis a questão.”
4 – REJEITA OS DESORGANIZADOS
Hélio Puglielli:
“Entre outras interpretações possíveis, a pesquisa parece indicar que a opinião pública brasileira rejeita as instituições que não se apresentam homogêneas e organizadas.
A fragmentação gelatinosa decorrente de um pluripartidarismo desvirtuado e os casos de corrupção em todos os níveis da administração pública explicam a baixíssima confiança nas siglas partidárias, políticos, congressistas e no governo em geral. Não poderia ser de outra forma, aí se incluindo o Judiciário notoriamente lento, caro e com decisões por vezes contraditórias.”
5 – DISCIPLINA MILITAR
Prossegue Puglielli:
“No outro polo, a confiança depositada nas Forças Armadas explica-se pela seriedade com que é exercitada a disciplina nas instituições militares, em contraste com a desfaçatez reinante na vida política, que se desenrola sem vinculação a valores permanentes e com as mais incríveis demonstrações de incoerência.
O fato de há décadas os militares não se imiscuírem na vida pública, ao contrário da contumácia com que agiam no sentido contrário, durante o século passado, contribui decisivamente para que sua imagem se apresente sem máculas perante a opinião pública.”
6 – ÚLTIMO REDUTO…
Conclui Puglielli:
“ Não seria exagero dizer que grande parte da população vê as instituições militares como uma espécie de último reduto da brasilidade.
Quanto à Igreja, beneficia-se também da homogeneidade e permanência de sua estrutura, em contraste com a vertiginosa multiplicação de novas denominações evangélicas de caráter pentecostalista, que criam excitação espiritual muitas vezes culminando no vazio e desorientação. Séculos de hegemonia católica constituem o fundamento sólido para a respeitabilidade da Igreja. Os números da pesquisa parecem indicar que a grande maioria não confunde com a instituição em si os erros eventualmente cometidos por sacerdotes que se desviaram de seus votos e compromissos.”
7 – COLIGAÇÕES CONTRADITÓRIAS
Luiz Fernando Pereira:
“Já até escrevi sobre isso (o fim dos partidos políticos). Os partidos políticos, historicamente, só passaram a ter relevância a partir de discrepâncias ideológicas claras. Isso não existe mais. Todos os partidos defendem fundamentalmente a mesma coisa. Isso permite as coligações aparentemente contraditórias. E acaba gerando o desgaste flagrado na pesquisa. Além disso, os partidos sofrem o mesmo desgaste da classe política em geral. Ainda tenho tempo de vida para ver o fim dos partidos políticos. Seria salutar. Os partidos hoje são dispensáveis.”