Um dos ‘imbroglios’ mais bem guardados, longe das vistas do grande público, para evitar ‘escândalos’ e “não atrapalhar momento de transição na Arquidiocese de Curitiba” é a questão de se definir, via judicial, quem é dono do imóvel em que está há 60 anos instalada a Casa dos Pobres São João Batista, no Rebouças, instituição de atendimento aos pobres absolutos.
A Casa, popularmente conhecida como Albergue São João Batista, foi fundada há seis décadas por Januário, um ferroviário humilde.
Na quinta-feira, estava marcada uma audiência na Terceira Vara da Fazenda Pública estadual, em que são litigantes a Arquidiocese de Curitiba versus Casa dos Pobres São João Batista. Mas a audiência foi transferida para outra data a pedido da Cúria.
2 – O PORQUÊ DOS CUIDADOS
Afinal, por que se mantém em certo sigilo a movimentação da Cúria em busca da posse do imóvel da Casa?
Primeiro, porque a questão, em si, é embrulhada mesmo, a começar pelo fato que a mantenedora é quem pagou (e não a Cúria), ao longo dos 60 anos (e continua a pagar) o IPTU do prédio em que funciona também uma creche.
E mais, para agravar a questão: no meio dos terrenos que aparecem em nome da Cúria, há um outro que foi escriturado em nome da própria mantenedora que, por sua vez, alega que “todo o imóvel deveria estar no nosso nome”, segundo “promessa feita ao fundador”.
Outra justificativa – segundo apontava ontem à coluna um membro do Cabido Metropolitano de Curitiba, amigo da coluna, e que pedia anonimato – “prende-se ao momento de transição que vive a Arquidiocese de Curitiba”:
Traduzindo: como o atual administrador, dom Rafael Biernasky, é candidato a suceder dom Moacir (recentemente falecido), e a decisão do Vaticano sobre a sucessão deverá ocorrer até dezembro, “não seria oportuno escancarar essa dissidência no meio da Igreja de Curitiba”, diz.
3 – JUSTIÇA TRANSFERE AUDIÊNCIA
Até por isso, a Cúria pediu, e o juiz da Terceira Vara da Fazenda Pública Estadual concedeu, a transferência da oitiva das testemunhas das duas partes para a primeira semana de dezembro.
A Casa dos Pobres São João Batista, presidida pelo engenheiro e empresário Rafael Pussoli, tem, por outro lado, uma enorme área, cerca de 4 mil metros quadrados, na Vila Hauer. Lá poderá se consumar um ‘sonho’ de dirigentes da Casa dos Pobres: a construção de uma instituição hospitalar totalmente de orientação católica, exclusivamente para população carente. O inspirador é padre Pio de Pietralcina, que construiu na Itália obra nesses moldes, referencial no mundo cristão.