Jayme Canet Junior não dá entrevistas. Tem medo da sua memória, costuma dizer. Tem receio de cometer injustiça com relação a pessoas e fatos históricos.
Mas o receio é infundado: à beira dos 90 anos, Canet mantém-se inteiramente dono de sua memória, passada e recente. As queixas de saúde são quase só de dificuldades de locomoção, que combate com frequência, duas vezes por semana, indo a sessões de fisioterapia numa famosa clínica de coluna e Curitiba.
2 – MEMÓRIA PRESENTE
Mas quando conversa informalmente com os amigos é capaz, até por se tratar de um mero bate-papo, de dar lições de como montou um governo que até hoje desperta saudade no Paraná.
Ocupou o Palácio Iguaçu de 1975 a 1979, substituindo Emílio Gomes, de que havia sido vice. “Na verdade, o Pedro Stenghel Guimarães, meu chefe de gabinete, foi mais vice-governador do que eu”, diz. Na verdade, “fui o último a saber que tinha sido escolhido vice-governador”, explica.
3 – DOCUMENTOU NECESSIDADES
Se como vice, Canet ficou distante do Palácio Iguaçu, tão logo escolhido governador – e sacramentado pela Assembleia Legislativa, em eleição indireta – ele tratou de conhecer “a empresa que iria dirigir”.
Assim mesmo, chamando o Governo de empresa – “era minha visão de empresário” – Canet tratou de conhecer seu novo empreendimento, desta vez público.
Num tempo em que nem se sonhava com a Internet, Canet tomou a primeira providencia: mandou 5 automóveis, com engenheiros e fotógrafos a percorrer o Paraná todo. O alvo foram todos os municípios.
4 – DESMENTINDO PREFEITOS
Em cada cidade, os enviados de Canet levantavam, sumariamente, as necessidades locais: educação, saúde, estradas, segurança pública. E as áreas mais necessitadas de apoio do Estado eram fotografadas, fotos acompanhadas de um pequeno relatório sobre as carências de cada cidade iam diretamente para as mãos do governador.
Assim, com a documentação em mãos, Canet passou a receber os prefeitos e seus pedidos de socorro. Eles nem sempre tinham suas necessidades “casando” com a realidade do município. Era quando entrava Canet com sua documentação fotográfica de cada cidade, para dizer, muitas vezes, que o município seria atendido, mas não de acordo com o pedido de cada prefeito.
Inovou de todo: os prefeitos só chegavam a Canet, dali em diante, com petições pertinentes.