quarta-feira, 16 julho, 2025
HomeAgenda CulturalOlhar de Cinema premia “Cais” e “Apenas Coisas Boas”

Olhar de Cinema premia “Cais” e “Apenas Coisas Boas”

Assessoria – O Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, um dos mais importantes eventos dedicados à sétima arte no Brasil, revelou os ganhadores de sua 14ª edição.

Reunindo mais de 92 produções de todo o mundo em sua ampla programação, o festival também contou com aguardadas estreias nacionais e internacionais em suas Mostras Competitivas, entre a Brasileira e a Internacional, com títulos que concorreram aos prêmios de Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Atuação, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som, Melhor Montagem e o Prêmio Olhar de Melhor Filme. Já os curtas-metragens concorreram ao Prêmio Especial do Júri e de de Melhor Filme.

Na Competitiva Internacional, os longas-metragens competiram pelo Prêmio Olhar de Melhor Filme e Prêmio Especial do Júri. E os curtas, ao Prêmio Olhar de Melhor Filme.

O júri que avaliou as produções das mostras competitivas brasileiras (curtas e longas) e os curtas-metragens da Competitiva Internacional é formado pelo historiador, gestor audiovisual, produtor e diretor Rodrigo Antonio; a premiada atriz em Sundance, Berlim, Mix Brasil e Festival do Rio, Bruna Linzmeyer, que se destaca pelo ativismo LGBTQIA+ e está desenvolvendo seu primeiro longa de ficção, “Corupá”; a gerente de departamento de programação e programadora na equipe de longas do Festival Sundance de Cinema e de Sun Valley, Ana Souza; a pesquisadora, programadora de festivais e também diretora do Berlinale Forum, Bárbara Wurm; e Pedro Freire, diretor de “Malu”, que fez sua estreia na incluindo o de Melhor Filme.

Confira os ganhadores da Mostras Competitiva Brasileira do 14º Olhar de Cinema:

‘Cais’ foi um dos destaques do 14 Olhar de Cinema. Foto: Lina Sumizono

“Cais” (Bahia), da diretora Safira Moreira, foi agraciado com três dos principais prêmios da noite, sendo o Prêmio Olhar de Melhor Filme, o de Melhor Longa pelo Voto do Público e o Prêmio da Crítica Abraccine. A produção aborda o delicado tema do luto e do tempo, em que a cineasta viaja, dois meses após o falecimento de sua mãe Angélica, em busca de encontrá-la em outras paisagens, percorrendo cidades banhadas pelo Rio Paraguaçu (Bahia) e pelo Rio Alegre (Maranhão), para imergir em novas perspectivas sobre memória, tempo, nascimento, vida e morte.

Outro grande destaque da noite foi “Apenas Coisas Boas” (Goiás), do diretor Daniel Nolasco, um dos principais nomes do cinema queer brasileiro e internacional, que também Levou três prêmios. O longa, que é o segundo de ficção do cineasta, é um romance rural LGBTQ+ com drama que parte do encontro entre dois homens no interior do Goiás, em 1984, apresentando uma narrativa marcada pela solidão e a tensão entre o desejo e a
repressão.

“Apenas Coisas Boas” levou os troféus de Melhor Roteiro (Daniel Nolasco), Melhor Som (Guile Martins, Jesse Marmo, Naja Sodré e Daniel Nolasco), e Melhor Direção de Arte (Marcus Takatsuka).

Equipe de ‘Apenas Coisas Boas’. Foto: Lina Sumizono

O novo filme de Maria Clara Escobar, “Explode São Paulo, Gil” (São Paulo) levou os prêmios de Melhor Atuação (Gildeane Leonina) e de Melhor Direção (Maria Clara Escobar). O longa-metragem gira em torno de Gil, que sempre teve o sonho de ser cantora e que se mudou para São Paulo com sua esposa quando tinha 20 e pouco anos. Agora, com 50 anos, trabalha como faxineira. Do encontro de Gil com Maria Clara, surgiu a possibilidade para fazer o filme acontecer, para transformar a “sonhadora” em uma cantora, trazendo reflexões sobre sonhos, trabalho, envelhecimento e esquecimento.

“Aurora” (Rio de Janeiro), de João Vieira Torres, levou o prêmio de Melhor Fotografia (Wilssa Esser e Camila Freitas). A produção leva o nome da avó do diretor, que foi parteira e curandeira por mais de 40 anos no sertão profundo da Bahia. De um encontro a outro, entre os vivos e os mortos, o filme segue os rastros de Aurora, confrontando a violência estrutural de gênero e racial, presentes na formação história do Brasil.

A Voz de Deus” (São Paulo), do diretor Miguel Antunes Ramos, ganhou o Prêmio de Melhor Montagem (Yuri Amaral). O longa gira em torno de duas crianças pregadoras que buscam uma vida melhor através da fé, um de 17 anos que era a criança pregadora mais famosa do Brasil, mas à medida que cresce, enfrenta menos interesse por parte do público, e João, de 12 anos, que está no auge e possui um milhão de seguidores no Instagram, pregando para multidões.

Já os curtas-metragens da Mostra Competitiva Brasileira premiado no 14º Olhar de Cinema foram: “Fronteriza”, que levou o Prêmio Olhar de Melhor Filme Curta-Metragem (Rosa Caldeira e Nay Mendl). A produção acompanha Lucca, uma jovem trans da periferia de São Paulo, que viaja até Foz do Iguaçu, no limite entre Brasil, Paraguai e Argentina, em busca do pai que nunca conheceu; e “Americana”, com o Prêmio Especial do Júri. Dirigido por Agarb Braga, o curta gira em torno de cinco amigas, que são detidas após uma briga em praça pública, motivada por uma traição. Na delegacia, durante os depoimentos, os segredos vêm à tona, com revelações inesperadas.

Veja a lista completa dos premiados no site do Olhar de Cinema.

Resenhas sobre os premiados

“Cais”. Reprodução

Por André Nunes – Na sessão de reprise dos premiados, nesta quinta-feira (19), tive a oportunidade de assistir na sala Cine Luz, do Cine Passeio, tanto “Cais”, quanto “Apenas Coisas Boas”, e sai bastante impressionado de ambas as produções.

Enquanto “Cais” evoca nossa memória ancestral, feminina, representada pelas gerações de uma mesma família em cena, com belíssima trilha sonora, efeitos visuais e direção de arte, “Apenas Coisas Boas” nos retira do lugar comum ao propor um mergulho pelo interior de Goiás dos anos 1980, rural e opressor, passando para a Goiânia dos dias atuais, urbana e igualmente opressora, sob outros pontos de vista.

O longa de Safira Moreira se utiliza da força da ancestralidade afrobrasileira, da religiosidade de matriz africana tão presente no dia a dia de tantos brasileiros, e de sua jornada pessoal e familiar para entregar uma produção forte, cinestésica e atemporal. A sequência dos lençóis maranhenses embalada pelo Canto para Oxum (Oro mi Maiô) desde já é antológica.

Apenas Coisas Boas. Olhar Filmes/Reprodução

Já a produção de Daniel Nolasco desnuda (literalmente, e no sentido figurado) seu elenco para revelar dois momentos felizes de um relacionamento LGBT, conforme explicou o diretor na coletiva de imprensa: seu início e seu fim, após algumas décadas. Após lidarem com a repressão familiar e do ambiente rural, nos anos 1980, o casal Antonio e Marcelo se depara com os desafios de ser um casal gay com mais de 30 anos de união – com a total ausência em cena de Marcelo na metade final.

Ainda não assisti a outras produções de Safira e Daniel, mas fiquei fascinado por seus longas premiados neste Olhar de Cinema.

Leia Também

Leia Também