segunda-feira, 7 outubro, 2024
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Café e vinho “Made in” Superagui

Ilha de Superagui
Ilha de Superagui

Embora poucos, alguns turistas europeus e americanos que vieram a Curitiba atraídos pela Copa do Mundo chegaram a dar uma “esticada” pelas ilhas do litoral paranaense. Um dos organizadores da excursão informa à coluna que os estrangeiros foram unânimes em sua admiração por nossas ilhas, tanto pela beleza natural, quanto pela inexistência de veículos motorizados circulando pelas Ilhas do Mel, das Peças e Superagui. Esta última principalmente causou admiração em todos eles, pela grande extensão de praias desertas. Foi-lhes dito, também, que ali um europeu pisou pela primeira vez em solo paranaense: o náufrago alemão Hans Staden.

AGRICULTURA FLORESCENTE

José Carlos Veiga Lopes
José Carlos Veiga Lopes

O que a maioria dos paranaenses não sabe é que a ilha de natureza supostamente virgem e intocada, que tanto maravilha os que a visitam, já foi um centro de intensa atividade econômica agrícola, conforme revela a pesquisa histórica levada avante por vários estudiosos. Um dos mais destacados é José Carlos Veiga Lopes, falecido há poucos anos no exercício da presidência da Academia Paranaense de Letras.

Considerada Patrimônio Natural e Histórico do Paraná, Sítio do Patrimônio Natural pela UNESCO em 1999 e Reserva da Biosfera (UNESCO, 1991), Superagui teve sua cobertura vegetal, no final do séc. XIX e início do XX, em boa parte substituída por lavouras, principalmente com o plantio da mandioca, café, cana de açúcar e até parreiras. Tudo consequência de ocupação iniciada por ingleses que estabeleceram a primeira serraria e continuada – de forma menos predatória – por franco-suíços liderados por Charles Perret Gentil.

VINHO DE BOA ACEITAÇÃO

Ilha do Mel
Ilha do Mel

De fertilidade quase inimaginável, na época, as terras insulares propiciaram o plantio de feijão, arroz, milho, garantindo a subsistência dos colonos. Entre esses, o suíço Guillaume Henri Michaud (que no Brasil passou a ser chamado de “William”), conhecidíssimo como o artista que registrou as paisagens da ilha. Juntamente com o vizinho alsaciano Sigwalt, Michaud desenvolveu a vinicultura, chegando a ter mil videiras e produzindo o vinho “Petit Bordeaux”, comparável ao suíço, como assinalou em relatório à Assembléia, de 31 de março de 1877: “o vinho que se produz na colônia tem tido boa aceitação nesta capital”.

REVEZES CLIMÁTICOS

Mas nem tudo era bonança. Superaguí foi devastada por terrível vendaval.

“tão forte que a maioria das casas sofreu as consequências, as telhas voaram, as árvores foram arrancadas pelas raízes, todas as bananeiras quebradas e os campos de milho destruídos, inclusive os vinhedos, atualmente carregados, foram por terra, em alguns lugares as estacas foram quebradas pela violência do furacão, apesar destes ventos, os cafeeiros nada sofreram e estão cheios de frutos”. O ítalo-suíço Giordano Schenini era um dos que se dedicavam à cafeicultura, que – como se vê pelos apontamentos deixados por Michaud – pouco sofreu com o vendaval.

REVOLUÇÃO NA ILHA

Mas tudo terminou como uma bolha que explode no ar com a revolução federalista do final do séc. XIX. Enquanto o Barão do Cerro Azul e outros mártires eram fuzilados na Serra do Mar, os colonos estrangeiros do Superaqui eram perseguidos como “suspeitos”. Refugiado no continente, quando retornou à ilha, Michaud encontrou sua casa saqueada e destruída pelos soldados da polícia e sua família escondida nas matas. Arrependeu-se de ter vindo ao Brasil, lamentando não poder retornar a Europa. Todos sofreram, suíços, italianos e alemães, entre eles um dos fundadores da colônia, o italiano Giovanni Batista Rovedo.

PESCADO VIA AÉREA

Escritor Franco Rovedo
Escritor Franco Rovedo

Um neto de Rovedo, cuja família está hoje na quarta geração de brasileiros, viria a ser Prefeito de Guaraqueçaba. Antonio Rovedo, segundo conta o neto Franco, escritor e conhecido “designer” em Curitiba, manifestou o espírito aventureiro do antepassado. Associado a um ex-piloto da RAF, proprietário de um hidroavião, nos anos 40, resolveu transformar a pesca artesanal em negócio lucrativo. O hidroavião descia sem maiores dificuldades até nos pontos mais inacessíveis da baía de Paranaguá, levando o pescado aos consumidores. Querendo faturar mais, porém, excederam a tonelagem que o avião poderia carregar e o aparelho acabou inutilizado, pondo melancólico epílogo ao negócio. Franco Rovedo escreveu um conto sobre o fato e foi recentemente premiado pelo setor cultural de Paranaguá.

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