domingo, 16 fevereiro, 2025
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CACOETES, DEUS ME LIVRE DELES

(por Antônio Carlos da Costa Coelho)

Rabino Henry Sobel

Cacoetes são, geralmente, causadores de situações engraçadas ou constrangedoras. Há muitos anos jogava cartas, numa tarde de chuva, na fazenda do saudoso Gustavo Ribas. Jogávamos canastra. Minha parceira era uma senhora de bastante idade. Como nunca fui bom na arte das cartas, jogava inseguro. Julgava que minha parceira fosse uma mestre do carteado. Estava disposto a acatar suas orientações, mesmo que veladas, como tudo deve acontecer sobre o feltro verde. Cada vez que chegava a minha vez de jogar, comprar ou descartar, a minha parceira piscava.

Piscava com vontade. Escandalosamente, jogava o olho esquerdo para o lado.

E daí? Não sabia o que deveria fazer: comprar a mesa, comprar o sete de paus ou o cinco de copas. Bastava eu pôr a mão numa das cartas para a senhora dar uma piscada e uma virada de olho. Só depois de muitas mesas de carta, de muitas derrotas, e da chuva ter passado, é que descobri que dona Adélia tinha o cacoete de piscar e torcer o olho esquerdo para o lado.

Certa vez o rabino Henry Sobel fazia uma palestra. Plateia cheia. Sobel sempre falou muito bem, apesar do forte acento americano que tornou-se uma das suas marcas. O rabino nascido em Lisboa, sempre atrai, com justiça, muitas pessoas para ouvi-lo. Mas, naquela noite, o palestrante mostrava-se, em alguns momentos, inseguro.

Na plateia estavam duas senhoras. Uma delas tinha o tique de mover a cabeça para os lados, como quem nega; outra, também tinha um tique semelhante, mas movia a cabeça como quem aprova. A cada uma das afirmações de Sobel uma das senhoras “aprovava ou desaprovava” o que o importante Rabino falava. Sobel terminou a palestra. Voltou para São Paulo sem saber dos trejeitos das suas ouvintes.

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