“O povo do Brasil está cheio de ladrões… roubaram o meu coração”. Foi o que disse o Papa Francisco ao novo cardeal brasileiro, Orani João Tempesta. Francisco referia-se à onda de carinho que recebeu durante a sua viagem ao Rio de Janeiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em julho de 2013. Um afeto que manifestará também com a próxima Copa do Mundo, que saudará com uma mensagem contra o racismo.
Alvarez e publicada no site Vatican Insider, 24-02-2014. A reportagem é de Andrés Beltramo. A tradução é de André Langer.
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“Pedi ao Santo Padre uma palavra, porque na terça-feira voltarei ao Rio de Janeiro para as celebrações com a diocese. Perguntei-lhe o que devia dizer às pessoas e ele ratificou seu carinho e sua amizade com todo o povo brasileiro, agradeceu a proximidade e disse que o povo brasileiro é ‘ladrão’ porque soube roubar seu coração”, assegurou o arcebispo em entrevista ao Vatican Insider.
Também referiu-se à incisiva homilia pronunciada pelo Papa na missa do domingo, 23, por ocasião da criação de 19 novos cardeais da Igreja. O Pontífice disse com clareza que a Igreja de Roma “não é uma corte” e, por isso, os cardeais devem evitar as atitudes cortesãs, “as intrigas, as fofocas, as panelinhas e os favoritismos”.
“Está muito bem o que disse o Papa, uma reflexão que partiu da primeira leitura da missa e também do Evangelho”, indicou Tempesta e acrescentou que os cardeais receberam a mensagem que incluiu a necessidade de não sentir-se uma corte, mas também o convite, como membros do clero de Roma, a caminhar na conversão e na santidade.”
Em outro trecho:
“Depois do belo gesto de Bento XVI de renunciar, muito querido, como se viu nos aplausos (quando reapareceu pela primeira vez publicamente) na celebração do sábado. Agora há a proximidade com o povo, a proximidade, o diálogo com a sociedade, a preocupação com a paz, a fome, a justiça, com os refugiados e uma renovação da Igreja em seu interior, que é o que o Santo Padre quer com o seu trabalho”, insistiu.
O Brasil parece disposto a ter uma relação especial com o Papa latino-americano, inclusive acima da sua Argentina natal. Notou-se isso nas delegações oficiais que participaram durante a criação dos novos cardeais na Basílica de São Pedro. Enquanto os brasileiros estiveram representados pela presidente Dilma Rousseff, a presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner enviou o secretário de Culto, Guillermo Oliveri.
Na sexta-feira, 21, pela tarde, Rousseff reuniu-se em privado com o líder católico, em uma salinha situada dentro da Sala Paulo VI do Vaticano. Uma audiência que durou, no total, cerca de meia hora. Ao final do encontro Bergoglio recebeu como presentes uma camisa da seleção assinada pelo ídolo Pelé e uma bola assinada por Ronaldo.
“Tudo isto é para que reze pelo Brasil para que ganhe a Copa?”, brincou Francisco. “Santo Padre, ao menos lhe pedimos neutralidade”, respondeu entre risos Dilma. Ao sair do encontro ela mesma comunicou, pelo Twitter, que o Pontífice aceitou gravar uma mensagem contra o racismo por ocasião do mundial de futebol.
“É uma forma de mostrar que o futebol, ao congregar centenas de países, criar um espírito de fraternidade e despertar tanta emoção, também é o momento para defender a paz e manifestar-se contra o preconceito, causas que unem todos os povos e religiões”, apontou.