Mais tarde, ainda no começo dos 1960, voltei a trabalhar com DA no “Bandeirantes do Progresso”, o primeiro “Quem é quem” do Paraná, livro arquitetado por um italiano/espanhol, dono de um estilo imperial, o denominado barão Heitor de La Torraca. Era um personagem feliniano, milionário, que percebera o peso de Dino Almeida na sociedade paranaense daqueles dias, e deu ao cronista social a autoria da obra-novidade.
Se a revista Club não durou mais que dois anos, a publicação serviu, no entanto, para expor amplamente o poder de fogo do Dino. Curiosamente, o fim da revista muito bem diagramada e concebida editorialmente por Nelson Faria (de Barros, também, sobrenome que ele não assinava), acabou dando lugar, no mesmo edifício Tijucas, à primeira emissora de televisão do Paraná, a TV Paranaense, Canal 12, hoje RPC. Lá ela ficou por poucos meses, quando depois se mudou para a Rua Emiliano Perneta, próximo da Praça Zacarias, onde hoje funciona um estacionamento.
NAGIBE CHEDE
A emissora de televisão Canal 12 nascera pela ousadia do empresário Nagibe Chede que já tinha outros negócios na área de comunicação, como a Rádio Emissora Paranaense, mais tarde vendida para uma igreja pentecostal.
Dino chegou a fazer alguns programas de “gossips” sociais nos dias iniciais da televisão. Mas logo desistiu, seu negócio mesmo era fazer crônica social em jornal, então a “rainha das mídias”, como diria o jornalista Mussa José Assis.
Mas Dino não andava muitos quarteirões para trabalhar no novo endereço: mudara-se para a poucos metros adiante do Tijucas, um conjunto do Edifício Asa, Rua Voluntário da Pátria, 475, onde o ítalo-espanhol nominado barão Heitor de La Torraca, vindo, ao que parece, de Porto Alegre, convencera Dino Almeida a ser o autor de um livro de referência da sociedade paranaense em seus segmentos vários – do político ao empresarial, das dondocas aos empreendedores industriais e cientistas, sem esquecer o velho Paraná, aquela gente do calibre de Cassiana Lacerda, Adolpho de Oliveira Franco e David da Silva Carneiro e família.
Naqueles dias, começando a vida, Dino morava no apartamento de uma tia, catarinense como ele, na Sete de Setembro, perto do Colégio Bom Jesus.
Dividia espaço com Décio e Tereza, a irmã.
Muitas vezes fui de manhã, cedo, acordar o Dino para começar a jornada, cumprindo pedido que me fazia em tom de quem implorava, conhecedor que era de seu “pecado” do sono…
“UM PASSARINHO CONTOU”
Dino nunca foi um redator primoroso, mas, sim, um criador de expressões que ficaram naqueles dias, como “Caiobá, a Divina”, ou “Um Passarinho me contou”, este quando queria revelar algo bombástico.
Era o cronista das sacadas, alguém que conhecida os pontos fortes e “os fundilhos da sociedade paranaense”, como me lembra outro velho jornalista que igualmente conheceu muito bem DA.
ABRINDO PORTAS
Voltando ao “Bandeirantes do Progresso”: Dino abria as portas, apresentava o projeto do livro, chegava às personagens futuras da obra.
Quem dava continuidade ao trabalho eram seus redatores, basicamente, Nelson Faria e eu, a equipe permanente. Às vezes, o Adel. Eventualmente outros colaboravam fazendo as entrevistas, acompanhando as sessões de fotos e, depois, dando redação final ao trabalho. Tudo era feito com gravadores tipo caixotes, pesados, uns 3 quilos, que eram o “must” daqueles dias.
Eu sempre preferi fazer anotações, sem paciência para as degravações.
O livro foi sendo enrolado, entraram na sociedade do barão e Dino até nomes do patriciado curitibano.
La Torraca não viu a obra impressa, se não estou enganado, tendo desistido no meio do caminho. Mas DA tinha um nome a zelar e, um dia, o “Bandeirantes” foi para as livrarias e começou a chegar às mãos dos personagens.
“PAPELEIROS GAÚCHOS”
Walter Schmidt, jornalista e também conhecedor da história de nossa imprensa, me lembra que DA chegou a editar o volume 2 do livro que era “primorosamente” trabalhado pela equipe gaúcha de corretores. A eles cabiam os acertos financeiros, ou, como ferinas línguas diziam, “faziam a picaretagem”.
Dino se expunha, os corretores também. O barão e sua mulher, Andrea, ficavam numa torre de marfim, encastelados numa suíte do então Hotel Iguaçu (hoje Bourbon). O forte do barão era a concepção das jogadas; de DA, a credibilidade e capacidade de fazer amigos e influenciar pessoas, isso sem ter ainda lido o Dale Carnagie.
O acerto comercial do livro era feito por uma equipe de primeira, na especialidade de “vender papéis”, moços, quase todos, bem vestidos e invejável na conversa. A equipe era composta de gaúchos, que já tinham “tradição” na arte de vender qualquer coisa, como títulos do Mongeral e de outros produtos concebidos pelos montepios que pululavam em Porto Alegre.
Desse grupo de gaúchos, me lembro bem de José Gerson Maysonnave e seu pai que, mais tarde, venderiam os ossuários que tinham o aval da Arquidiocese de Curitiba, e que ficariam na Igreja de N.S.de Fátima, no Tarumã.
ROMA FALOU, TÁ FALADO
Eram tempos de “Roma locuta, causa finita”, o placet da Igreja e do arcebispo de Curitiba abriam enormes portas, embora, dizem más línguas, os moços tenham prometido o Paraíso aos compradores de espaços para seus futuros ossos, promessa, claro, jamais cumprida. Muitas reclamações.
Lá por 1964, lembra-me Schmidt, foi quando se deu a compra do passe de Dino Almeida do Diário do Paraná pela a Gazeta do Povo. Havia um antigo contato e admiração recíproca entre DA e o cap Francisco da Cunha Pereira, que conhecera Dino dentro do SESI: ele como advogado, o jovem DA atuando como espécie de auxiliar administrativo. Ou office-boy?

NELSON FARIA
Se houve alguém de quem Dino nunca se afastou foi de Nelson Faria. Sempre manteve Nelsinho ao seu lado, embora as muitas diferenças de modo de vida e escolhas do colunista e aquele que foi sua mais forte influência intelectual.
Quando se impôs na Gazeta do Povo, DA foi alçando voos mais longos. O primeiro passo foi estabelecer-se em escritório bem montado no antigo edifício do Banco Comercial do Paraná, local onde deve ter estreitado relacionamento com Edmundo Lemanski, sócio de Francisco na Gazeta e na TV Canal 12.
Edmundo Lemanski, para lembrar, era diretor do Banco Comercial do Paraná, posição conseguida depois de casamento com uma filha de Raphael Pappa, de SP, e da qual depois se divorciaria.
Por dever de justiça tenho de lembrar que Pedro Américo de Almeida foi, com o passar dos dias, sendo um “alter ego” de DA, ampliando os contatos da coluna e, depois, das revistas que Dino criaria. Pedro e DA tiveram uma empresa corretora de seguros.
E também por dever de justiça sou obrigado a lembrar que Dino teve outros auxiliares de alto coturno, gente com boa formação na reportagem jornalística, que o apoiou na consolidação da marca DA. Dentre eles, o escritor Nelson Padrella, o publicitário Almir Feijó Junior, Nadyesda Almeida (filha do DA), o jornalista Pedro Ribeiro, do Paraná Portal, jornalista Márcia Morosin…
A MOSCA AZUL
Dino foi se despindo do menino que vencera na cidade vertical. Foi criando juízo, embora por vezes ainda enfrentasse situações de perigo como aquela vez que, com Vinicius Coelho e comigo, resolveu enfrentar soldados do Exército que tentaram obstar-lhe a entrada no Círculo Militar para um baile. Batemos e apanhamos, o que não seria exatamente uma novidade na vida noturna do cronista social que passaria até por situações mais tragicômicas. Com o daquela em que foi “despedido” da festa de aniversário de um milionário segurador curitibano sob ameaças de desforço físico. Ou, segundo outras fontes, depois de levar uma surra homérica. Simplesmente porque passara da conta nos drinques et….
COM NADYEGE
Casou-se com Nadyege Boldrin Almeida, tiveram cinco filhos. Um deles, o Dininho, chegou a ser eleito vereador, depois de DA ter cumprido um mandato na Câmara Municipal de Curitiba.
Inquieto, influenciado pelo meio jornalístico de então, em que prevaleciam bacharéis em Direito, acabou se formando em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba, hoje UniCuritiba.
Nunca advogou, tinha uma multidão de amigos a defendê-lo, se preciso.
FIDELIDADES AOS STRESSER
A verdade é que uma das grandes marcas na carreira de Dino foi a influência que Adherbal Stresser, diretor dos Diários Associados do Paraná, e seu filho Ronald Stresser, exerceram sobre ele.
Dino foi fiel aos Stresser, inclusive nas obrigatórias noitadas no Ile de France, quase sempre acompanhado de outro lendário personagem daquela Curitiba de não mais que 500 mil habitantes: o publicitário refinado, grande vendedor da mídia, José Felipe Engler, um mineiro que conquistara Curitiba.
Engler quase se formara em Engenharia. Num círculo restrito de amigos – ficou conhecido por ter obras de arte milionárias, como um Renoir.
Com o tempo, sempre próximo do DA e sua família, fui tendo minha vida em outras esferas de trabalho. Mas nunca deixamos, no entanto, de nos contatar, até o final dele, quando reinava absoluto em Curitiba num amplo conjunto de escritório na Rua Comendador Araújo, no Edifício Center Everest, construído por outro de seus personagens, Jayme Canet Junior.
NO EVEREST
Ali, no edifício Everest, sempre tendo como braço direito Bacanoff, um ‘faz tudo” de fidelidade polaca, Dino por vezes marcava encontro para um cafezinho comigo. Mas eu quase desistia de atravessar rua com ele, tal o assédio dos que queriam cumprimentá-lo. E a “perseguição” dos pedintes, que o chamavam pelo nome, estendiam a mão e sempre eram aquinhoados com trocados que DA carregava nos bolsos “para emergências”.
Por último, mas não menos importante, tenho de lembrar a grande entrevista que fizemos com ele, pelos seus 40 anos de colunismo. Foi no apartamento de Maria Helena Canet (a Lelé), no Batel. Os entrevistadores escolhidos a dedo por DA eram uma espécie de homenagem a colegas que o ajudaram na grande caminhada de conhecer Curitiba, sua gente, seus gostos, sua alma: Ayrton Luiz Baptista, Emílio Zola Florenzano, Airton Cordeiro, Nelson Faria, Vinicius Coelho, eu e (quem mais?) …
Dino merece, pelo menos, o nome de uma praça de muitos passarinhos – “um passarinho me contou” – e espaços para repouso e encontros de enamorados.
Quem se habilita a materializar o agradecimento de Curitiba a um de seus mais notáveis mais notáveis filhos adotivos do século 20?
Wasyl Stuparik, radialista, comunicador social, memorialista eletrônico, faz sua parte nessa proposta, encaminhando à coluna as fotos abaixo:

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EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
(texto de Célio Heitor Guimarães)
Eu era locutor da velha Independência AM, de Jorge Nassar e Kalil Maia Neto; Marcus Aurélio de Castro dirigia a velha Cultura AM, de Abílio Holzmann, onde também atuava no departamento esportivo. Mas ambos éramos também colunistas de rádio e TV. Para evitar transtornos, usávamos pseudônimos. Eu era Epaminondas Castelo Branco e assinava coluna diária em “Última Hora”; Marcus Aurélio assinava-se Heleno de Freitas, no “Correio do Paraná”. Um dia, fomos convidados a conhecer os estúdios da TV Paraná, Canal 6, então na Rua José Loureiro. Fomos, como Epaminondas e Heleno. Lá, a recepção ficou por conta de Dino Almeida e Osni Bermudes, uma bela dupla que, infelizmente, já nos deixou.