
Personagem do Vozes do Paraná 10, o empresário Ferdinando Scheffer surpreende. Ao exibir uma grande fotografia de sua fábrica – a Águia Sistemas, especializada em instalações logísticas industriais, em Ponta Grossa – diz que há uma prova inconteste de que o mundo segue em contínua transformação, portanto é melhor não se apegar. Exemplifica: a profissão de advogado está com os dias contados. Jornalista que sou, em larga penúria, solidarizo-me com os que dedicaram a vida ao Direito:
“Bem-vindos ao muro das lamentações”.
TORVELINHO DE MUDANÇAS
Scheffer diz que recebeu a informação de um aplicativo americano, onde ele consulta profissões futuras. Não há nenhuma mágoa da parte dele.
Sequer alegria inconfessa e sardônica. O filho mais novo, Maurício, é advogado, mas não milita. Tornou-se administrador da Águia Química, recentemente negociada com um grupo belga. O valor girou em torno de improváveis nove dígitos em reais. Mais é bom não revelar. O que surpreende Scheffer é o cíclico torvelinho de mudanças. Scheffer foi dono da Rena, empresa fabricante de registradoras e mimeógrafos.
Vendeu-a quando o computador e a era digital apontavam no horizonte a um gaúcho por 5 bilhões de cruzeiros – uma cifra tão impensável na década de 70 quanto é agora na estabilidade do real.
METALÚRGICA FALIDA
Inquieto, Scheffer em duas ou três semanas engatava um novo negócio.
Comprou a falida Metalúrgica Águia, uma empresa que fabricava cofres e mobiliário de aço e fez dela uma empresa voltada para a estanteria de autopeças. A certa altura, desenvolveu um projeto que consistia em montar estantes sem a utilização de parafusos. Foi seu grande pulo do gato. Vendeu em todo o Brasil e deu perspectiva a uma empresa que também se desenhava anacrônica em curto espaço de tempo.
PINUS PARA O MUNDO
Da sua aposta no futuro, surgiu a Águia Sistemas, de intrincados projetos logísticos, a Água Química, fabricante de resina de tintas, e a Água Florestal, que exporta pinus para o mundo todo. Hoje, o braço madeireiro do grupo, que conserva sua sede em Ponta Grossa, produz 315 mil toneladas de toras por ano, 26 mil por mês. São 656 carretas por mês florestal, correspondente a 18 dias, o que significa 36 carretas a cada 24 horas.
PRESERVACIONISTA COMO POUCOS
Em janeiro Scheffer pretende produzir, ao lado do filho Maurício, um filme exibindo as regiões de florestas de araucária que tem orgulho de conservar. Um drone será utilizado para captar as imagens em baixa altitude e entre as árvores. Scheffer é um entusiasta das florestas produtivas e do ecossistema desenvolvido a partir delas. Há espécies de macacos e pássaros que ganharam uma nova moradia a partir do desenvolvimento de campos de pinus, de eucalipto e de araucária que os circundam e margeiam os rios. Aos 84 anos, Scheffer é um crítico renitente dos ambientalistas que usam crachá e um bloco de multas, mas é ele mesmo um ambientalista e preservacionista como poucos.
