terça-feira, 11 março, 2025
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Você já abraçou uma capivara hoje?

Por Marcus Gomes – Há mais de uma década, ambientalistas se reuniram, em Campinas, no interior de São Paulo, para protestar contra o abate de 20 capivaras. Estavam presentes na manifestação a Peta, ONG internacional de defesa dos animais e uma certa Associação dos Ativistas Veganos Independentes, que provavelmente se solidarizavam com os roedores por escolher uma dieta rica em legumes e folhas. De qualquer maneira, fizeram o de sempre: enterraram cruzes e acenderam velas para informar a população sobre as mortes dos bichos. A prefeitura comprovara, acima de qualquer dúvida, que dois zeladores municipais haviam morrido de febre maculosa, doença transmitida pelo carrapato-estrela que se hospeda na capivara.

A moléstia ronda e provoca óbitos na mesma proporção que cresce a população desses animais vistos nadando em lagos e rios e pastando nos gramados verdejantes das metrópoles. Parece bucólico, mas não é. Fotografados e filmados recebendo abraços de bípedes eufóricos, os roedores seguem rotina inconfundível, marchando e fazendo aquilo que a maioria dos herbívoros, que obram e andam, fazem.

Notícias associando a febre maculosa às capivaras não são recentes. A pandemia da Covid-19 nos deixou precavidos sobre a ocorrência de doenças que possam redundar em crise sanitária. A princípio não sabemos de onde elas vêm, mas nesse caso dúvida não há. O alerta foi dado depois das mortes ocorridas na Fazenda Santa Margarida, na região leste de Campinas, município do interior de São Paulo. As vítimas foram uma dentista e seu namorado.

Medo? Sim. Capivaras são comuns em Curitiba mais do que se imagina. E se transformaram em símbolo da capital. Em certa ocasião, o município promoveu a “Capi Parade” – espalhando esculturas do rato gigante em shoppings e galerias. Em outra transformou o bicho em símbolo de um campeonato de futebol cujo espetáculo deprimente resultou em vexame, altercação e vias de fato, e não necessariamente nessa ordem. A secretaria de comunicação do prefeito que ora governa publicou nota explicando que monitora a população desses animais nos parques públicos e que não há casos de febre maculosa registrados. O número de capivaras, segundo o município, é de 188, porém há discrepâncias nesse balanço. Em 2007, a superpopulação dos roedores somente em um parque – o Tingui – já preocupava pesquisadores, de acordo com reportagem da RPC TV – a afiliada da Rede Globo na capital. Eram 300 à época. Se houve o abate ou se se promoveu a castração desses animais, não há informação.

Há uma multidão de adoradores de capivaras que as associam a um (fofo) porquinho-da-índia em grandes proporções quando, na verdade, é, de longe, o maior roedor do mundo ou, em associação livre, o Mickey de “Quilos Mortais”. Especialistas se apressam a afirmar que apesar da relação estreita da capivara com o vetor da doença, a notificação de casos de febre maculosa no país se deve a diversos fatores. “O ser humano vem alterando muito o meio ambiente…”, etc etc.

Saiba como prevenir a febre maculosa

Pare por aí. Não há novidade nisso. Desde que o ser humano – o homo sapiens – surgiu na África Oriental, milhares de anos atrás, não fez outra coisa senão alterar o meio ambiente. Nós já destruímos a fauna e a flora em diversas ocasiões.

Havia a preguiça de seis metros, não há mais. Havia o tigre de dentes-de-sabre, não há mais. Havia o pássaro dodô, não há mais. Por onde passamos não nasce grama. Grana, talvez.

Admita-se: a prefeitura, apesar do conflito nos números, vem fazendo o seu papel. Alerta constantemente a população sobre os perigos de abraçar uma capivara como se abraça uma árvore, ainda que a estranheza seja semelhante. “Por mais dóceis que pareçam, não podemos esquecer que as capivaras são animais silvestres e é impossível prever a reação com a aproximação e o contato humano”, diz profissional de saúde do município. No caso dos carrapatos que se hospedam no roedor, há pouco a dizer. O aracnídeo – sim, ele pertence à família – carrega a bactéria responsável pela febre maculosa e dispõe de todas as ferramentas para transmiti-la aos humanos – com efeitos malévolos.

Portanto, se você não abraçou sua capivara hoje, é melhor que não faça.

MARCUS GOMES
redacao@bonijuris.com.br

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