domingo, 29 junho, 2025
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Festival: Nena Inoue busca origens ancestrais em Sobrevivente

Por André Nunes

Conheci Nena Inoue por uma indicação “boca a boca” no Festival de Curitiba de 2019. São quatro anos, mas parece uma década desde aquela edição pré-pandêmica. Nena estava em cartaz com sua já premiada Para Não Morrer, dentro da programação do Fringe, no Teatro Lala Schneider. Acabei não conseguindo ver durante o Festival, mas fui na sequência, na temporada. E durante a pandemia, assisti mais uma vez, numa transmissão ao vivo feita por Nena para ajudar seu público a lidar com o isolamento social.

Foto: Humberto Araujo

Sobrevivente, em cartaz na Mostra Lucia Camargo deste Festival 2023, fez duas sessões com casa cheia no Teatro Zé Maria, nesta quarta (5) e quinta (6). O espetáculo dá sequência ao anterior, numa trilogia sobre histórias de resistência de mulheres latino-americanas, além de abordar as próprias origens de Nena Inoue.

Filha de pai japonês e mãe brasileira, Nena nasceu em 1960 em Córdoba, Argentina, em meio à efervecência política que antecedia as ditaduras militares lá e aqui. Como ela mesmo enfatiza, seu nascimento nesta data e local não devem ter sido ao acaso, predestinando – de certa forma – a artista em sua jornada pessoal, profissional e política.

Foto: Humberto Araujo

Em meio às origens bem conhecidas do lado paterno nipônico, a atriz nunca teve o mesmo conhecimento (nem registros) de sua ancestralidade materna. Sua mãe veio de Goiás, mas sua avó, Maria Candida, que morreu aos 30 anos, só conta com a certidão de óbito de 1938. E mais nada. Seria de origem indígena Tupi Guarani? Por que aquela mulher independente para a época teve sua história apagada?

Essas e outras questões são trazidas ao público durante os 75 minutos da peça, que conta com participações do filho de Nena, Pedro Inoue, também ator, em interações divertidas e bem dosadas. Por ser um monólogo familiar, ter seu descendente em cena amplia as camadas genealógicas apresentadas.

Foto: Humberto Araujo

Poucas intérpretes conseguem cativar o público como Nena Inoue. Além da duração do espetáculo decorrer sem que se perceba, acabamos imergindo em sua narrativa que emociona ao mesmo tempo em que levanta reflexões sociais, históricas, de gênero e luta. Um dom das verdadeiras contadoras de história, como Nena.

Para Não Morrer se encerrava embalada por Mercedes Sosa: Gracias a la vida. Sobrevivente segue a toada da inesquecível cantante argentina, agora com Todo cambia. Feliz é o público que pode prestigiar uma força da natureza como é Nena Inoue em cena. Gracias por todo!

Foto: Humberto Araujo
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