
A vitória de Gustavo Petro na Colômbia é histórica por inúmeros aspectos. Será o primeiro presidente eleito de esquerda e terá a primeira mulher negra como vice
Mauricio Moura* – EXAME
“Em time que está ganhando não se mexe”, essa é uma das muitas frases folclóricas que o futebol nos brinda. Na política, as evidências empíricas apontam que governos bem avaliados são reeleitos, enquanto governos desaprovados costumam ter sérias dificuldades eleitorais. A vitória de Gustavo Petro na Colômbia é histórica por inúmeros aspectos. Será, por exemplo, o primeiro presidente eleito de esquerda e ainda terá a primeira mulher negra como vice-presidente. Nada trivial para o histórico do país. Todavia, a mensagem da opinião pública colombiana corrobora uma tendência consistente na América Latina moderna: está cada vez mais duro ser governo.
Na Argentina, o presidente Mauricio Macri, perdeu a reeleição porque seu governo era mais desaprovado que aprovado. Vale ressaltar, que o argentino melhorou sua popularidade durante a campanha, mas não foi suficiente para garantir um segundo mandato.
Na Bolívia, o governo provisório, amplamente mal avaliado pela opinião pública, amargou uma derrota para o mesmo grupo político de Evo Morales, ainda que com um candidato mais moderado.
No Peru, dois candidatos amplamente (Pedro Castillo e Keiko Fujimori) contrários ao presidente em exercício foram ao segundo turno. A política peruana talvez seja o maior exemplo da fragilidade do poder presidencial. Nenhum presidente desde Alberto Fujimori (preso por corrupção) conseguiu um apoio sustentável da opinião pública durante os mandatos.
OPOSIÇÃO COM FORÇA
Recentemente no Chile, o ex-líder estudantil e esquerdista Gabriel Boric, é claramente contrário ao ex mandatário Sebastian Pinera. Aliás, Peru, Chile e Colômbia já eliminaram os grupos políticos incumbentes no primeiro turno. Isso dá a dimensão da vontade de mudança dos eleitores desses países.
E não foram somente os políticos de esquerda que surfaram o sentimento de mudança. No Uruguai, Luis Pou, de centro-direita, derrotou a Frente Ampla (uma aglomeração de partidos de esquerda) que vinha governando o país. No Equador, a chapa de Andres Arauz e Rafael Correa (ex-presidente) foi derrota pelo empresário Guillermo Lasso. O potencial incumbente, o presidente Lenín Moreno (que foi vice de Correa) nem chegou a concorrer.
Portanto, na América Latina, buscar reeleição passou a ser sinônimo de viver na corda bamba. E se em time que está ganhando não se mexe, os times da terra da Libertadores seguem sofrendo seguidas derrotas. Mudança, acima de tudo, é o novo normal.
*Maurício Moura, fundador e presidente do instituto de pesquisa de opinião pública IDEIA e professor da Universidade George Washington, nos Estados Unidos
