quarta-feira, 5 fevereiro, 2025
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Jairo Pereira, o homem que se converteu em livro

Jairo Pereira
Jairo Pereira

Os escritores “normais” escrevem textos.

No caso de Jairo Pereira, ele é que é escrito pelos textos.

O fenômeno veio se anunciando desde as primeiras tentativas literárias de Jairo, homem do seu tempo, aberto ao drama da existência, estigmatizado desde cedo pelos mais irrequietos demônios interiores. O processo da criação se sobrepondo ao criador se aprofundou bastante em “O Abduzido” e atinge agora a culminância com “Arijo”. Quase mil páginas de puro delírio literário, além, muito além do que é ditado pela contemporaneidade dos cânones e paradigmas culturais.

“Arijo” está fora do tempo e do espaço ou se situa num espaço-tempo diferente? A interrogação está na raiz da problemática da abdução. Operada pelos “Ets” que habitam o mundo subterrâneo de cada um de nós – no caso de Jairo muito mais numerosos e frenéticos.

Em quase mil páginas o panorama completo e complexo de um inconsciente transparente e suas conexões ocultas com a práxis do real e da individualidade. Todo e qualquer leitor, experiente ou não, está arriscado a mergulhar nesse oceano de palavras e ter as suas próprias visões, pois o mundo de “Arijo” é também o mundo do inconsciente coletivo. Novos arquétipos, numa nova linguagem: a contribuição furiosa de alguém totalmente abduzido pelo ser estranho da literatura, expondo as vísceras de um imaginário com lances absolutamente inaugurais.

E, no entanto, tudo está tão distante neste imenso universo de signos e, ao mesmo tempo, tão próximo, integrado ao chão que todos palmilhamos. Por mais insólito que possa ser, “Arijo” não chega ao incomunicável, desde que seja lido com empatia e vontade de compreender o que é novo e diferente.

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