Não acho que o fato de Jair Bolsonaro ter-se manifestado pela primeira vez na qualidade de eleito, pela televisão, no domingo, a partir de um “míni culto religioso” pregado por Magno Malta, seja algo “não republicano”. É direito do cidadão, e ele o exerceu.
Orações sempre estiveram associadas a posses de presidentes no Ocidente (vide caso dos Estados Unidos) e à entronização de reis (como Espanha e Reino Unido, Noruega, Dinamarca).
DE MÃOS DADAS
Não partilho das reticências apostas pelo jornalista Merval Pereira ao momento de preces que Bolsonaro, de mãos dadas com a mulher, manifestou sua ação de graças. Não é um gesto como esse que rompe com o espírito Republicano nem com o chamado estado laico.
OS YATOLÁS
O que me preocupa, isso sim, é essa sombra que paira sobre as relações do poder, que vai entronizando no Governo alguns “yatolás” do neopentecostalismo. Eles indicam que vieram para ficar e avançar nos novos domínios de Governo.
TEOCRACIA
Não é preciso citar nomes, eles são conhecidos da Nação.
O que se espera é que o novo presidente não governe como alguém que estaria estabelecendo uma teocracia no Brasil e para tanto sendo acolitado por alguns poderosos pastores/empresários de forte ressonância midiática.
COM GETÚLIO
No passado, a Igreja Católica, já escrevi muito a respeito, fez o chamado espírito da “Cristandade” imperar neste Brasil. A aliança muito forte da Igreja com Getúlio Vargas se estendeu anos adentro.
Os governos dos ditadores militares (1964) foram surpreendidos, depois das adesões à Marcha Com Deus pela Família, com uma forte oposição da Igreja, personificada na CNBB, ao regime de então. Os cardeais Arns e Aloísio Lorscheider e o arcebispo Ivo Lorscheiter, além de dom Helder, tornaram-se históricos resistentes ao arbítrio.
CNBB E OAB
Na verdade, a CNBB e a OAB foram as grandes forças que criaram obstáculos ao regime militar e lutaram pela redemocratização do país.
Isto é o que a História mostra.
Não temo o espírito religioso atuando em governos. Afinal, religiosos – assim como políticos, empresários, donas de casa, jornalistas, etc. formam também a opinião pública; ajudam a formar a nacionalidade, e têm direito de defender suas teses.
Mas é inaceitável qualquer tentativa de estabelecimento de uma teocracia.
Por tudo isso mesmo, religiosos têm o direito de opinar.
Mas jamais de estabelecer bases de uma teocracia como a dos yatolás e dos mulás, cujos resultados estão aí mesmo, mostrados a partir do mundo Oriental.