Por Rodolpho Zannin Feijó (*)
Na busca por valores morais, individuais e coletivos, que preencham a sociedade, um fator é presença constante durante todo o processo: a dissemelhança. Seja de credo, cultura ou opinião, é nas diferenças que encontramos, afinal, a essência da democracia e as respostas para o convívio em harmonia.
O bom exemplo vem do Reino Unido, onde um modelo social mais justo e igualitário estabeleceu-se a partir do método da inclusividade religiosa.
O processo de inserção de minorias assegurou direitos humanos básicos e reafirmou poderes populares, e o sucesso de tal sistema nos faz refletir.
Por que não deixar de ver as diferenças humanas como entraves nos processos, e sim começar a adotá-las sob a ótica das novas possibilidades de composição na sociedade?
SOL EM LONDRES
Quão admirável é a diversidade aos domingos de sol em Londres. O espaço público torna-se um grande caldeirão da fé, onde todos os povos exercitam seus direitos de crença e celebram livremente suas culturas e tradições. Tal caos ordenado, laboratório da miscigenação, gera condições perfeitas até mesmo para a formação de religiões híbridas – o novo social.
É no “Speakers Corner”, a “Esquina dos Oradores”, que está o coração pulsante deste espírito fraterno e libertário; a morada de todos. O logradouro, antigo posto de execuções públicas da Inglaterra, é local agora para debates de qualquer tema e espécie – a liberdade total de expressão. Neste plano nobre e alto do comportamento humano, o respeito pelo dissemelhante não é mais uma utopia. O que nos impede de levar este ideal adiante?
INCLUSIVIDADE RELIGIOSA
Por si só, a inclusividade religiosa plena é capaz de promover uma quebra de monopólio que revolucionará a sociedade, abrindo poderes e distribuindo influência entre as classes. No topo da pirâmide e na contramão deste processo, encontra-se uma pequena elite detentora de poder. Servos do capital, a ganância suga-lhes o tempo, o trabalho – a vida – condenando estas pobres almas a venerar metais em templos da ganância. Tal fração impõe então a singularidade de ideias, gerando resultados adversos no Estado de direito.
Afinal, a diversidade é elemento perene e inerente à sociedade, e deve ser considerada como tal. Toda organização que não adotar a heterogeneidade holística de valores fatalmente se transformará em mero panfleto expansionista, desprezando a capacidade individual como elemento de transformação. A sociedade que buscamos, evoluída e inclusiva, inevitavelmente garantirá a possibilidade de voz para as mais diversas vertentes de fé, pensamento e convicções. Neste palco da vida, todas as etnias terão seu lugar na sociedade, com iguais oportunidades de cidadania e preservação de suas culturas. Elegantemente encaixada tem tal sistema se encontrará a inclusividade de valores, fé e tradições – um muscular exercício de direito, onde diversos elementos constituirão diferentes partes de um só corpo social.
AS DIFERENÇAS, O QUÊ SÃO?
Seja qual for seu credo ou filosofia de vida – ateu ou religioso, judeu ou católico, espírita ou evolucionista, hindu ou muçulmano – as diferenças nada mais são que instrumentos e possibilidades de construção da paz. A humanidade clama por líderes que simbolizem a unidade dos povos e a liberdade em exercer seus princípios – não ferindo o dissemelhante, mas amando-o. Ao peregrinar pela Terra Santa e pregar a paz entre as religiões, Papa Francisco mostrou que a fraternidade segue viva na índole humana e, quando alimentada, dissemina-se rapidamente.
APOSENTAR DOGMAS
Sim: podemos aceitar nossas diferenças, aposentar velhos dogmas, despatriar os fobismos e abandonar unilateralismos. Execrar preconceitos, abandonar ódios e perder medos.
É hora de aceitar os novos tempos nesta grande aldeia de todos os povos.
Vivemos dias plurais e os ventos da liberdade sopram forte por mudanças.
Vamos juntos estender as mãos para o diferente e reconhecer em nós mesmos a face fraterna da diversidade. Para só então, talvez, buscar algo maior – uma unidade global.
(*) Rodolpho Zannin Feijó é curitibano, estudante de Engenharia de Áudio na Universidade de Central Lancashire, na Inglaterra.