Mais uma mostra do que o leitor de minha coleção “Vozes do Paraná, Retratos de Paranaenses”, terá a partir de 12 de agosto, quando lançarei, às 20 horas (na Sociedade Garibaldi) o volume onze do livro.
Trata-se do resumo do perfil do jornalista Walter Schmidt, um dos personagens retratados em “Vozes 11”, que segue:
“Ele é parte de um pequeno grupo de veteranos jornalistas paranaenses”.
Trata-se de gente com mais de 70 anos e, pelo menos, 45 anos de atividade profissional. Tem a história da moderna imprensa local na ponta da língua. Foi um dos introdutores do lide (ou lead, em inglês) na Gazeta do Povo, decretando o final do “nariz de cera”. Técnica de jornal, “carpintaria de jornal” e histórias da imprensa são seus temas preferidos.
“PEDINDO GUERRA”
Ninguém melhor que Walter Werner Schmidt, 72, para ministrar um curso sobre como conviver, sem sobressaltos, num entorno social e profissional adverso, aparando bem todas contendas com eventuais adversários; ou para passar dicas de como enfrentar iracundos opositores, aqueles sempre prontos a pedir guerra, uma linhagem de gente avessa à lógica dos argumentos.
FAZENDO AMIGOS
Nessa arte, o jornalista curitibano é mestre consumado, sem ter levantado uma palha sequer para chegar ao mestrado na especialidade que anda junto com outra, a de fazer amigos e influenciar pessoas. Tudo executado sob um didatismo exemplar, sem rapapés e sem dobrar a coluna.
Mantendo altivez discreta e distanciamento crítico essencial, até para observar confirmada sua credibilidade.
“É da natureza”, assim responde quando lhe indago sobre de que “barro você é feito?”. A resposta primeira deve ser encontrada nas suas matrizes genéticas e nos espaços físicos e psíquicos em que nasceu e se desenvolveu, por primeiro, na sua Santa Catarina natal. Esse dado é essencial para bem se entender onde e como foi moldado “herr” Schmidt.
PELA MODERNIZAÇÃO
Com esse perfil, mais estrutura cultural avantajada, o barriga verde contribuiu para a geração de lances indispensáveis e históricos da imprensa paranaense em seu processo de modernização. Ele é parte saliente desse processo capitaneado nos 1960 pelos jornais O Estado do Paraná e Diário do Paraná. No entanto, a Gazeta do Povo foi a casa em que mais tempo ficou e influenciou, nos tempos de Francisco da Cunha Pereira Filho.
ALMA GERMÂNICA
Para melhor entendê-lo: Walter é germânico puro sangue. Pelo lado materno vem de uma família teuto-brasileira de quatro gerações, gente pioneira na fundação de Blumenau, como foram seus ancestrais Rosemann; já o pai era alemão nato, tendo chegado como profissional da construção civil ao Brasil. Por força do jus sanguinis, conferiu a cidadania alemã a Walter e a seus descendentes.
DISCIPLINA PACIENTE
Em Walter se ajustam, sem surpresas maiores, certas características atribuídas como marcas dos germânicos. Dentre elas, a disciplina paciente; o apego ao detalhe nas narrativas feitas com precisão; doação irrestrita ao trabalho; a detalhada observação dos fatos que correm ao derredor; também notável resiliência física e psíquica diante das adversidades…
JORNAL COMPARADO
De alguma maneira, Walter foi fazendo, na banca, exercícios de jornalismo comparado, arranhando na leitura de revistas em francês e inglês, demorando-se um pouco mais no decifrar o mundo ilustrado e noticioso de veículos como a “Neus Ilustriat”, que conseguia ler em alemão.
As novas gerações talvez não entendam na medida certa a paixão de vida de Walter por técnica de jornal, notável sobretudo no enorme processo de revitalização da imprensa brasileira por meio do curitibano Emilio Zola Florenzano, e Alberto Dines com a série “Cadernos de Jornalismo” publicada pelo antigo “Jornal do Brasil”.
UMA ESCOLA INFORMAL
Os Cadernos foram a grande escola informal de Schmidt e de boa parte dos jornalistas daqueles dias. De qualquer forma, o engajamento de Schmidt no mundo das técnicas de jornal ia muito além do essencial formal. Ele foi também foi seguidor fiel – como democrata social, como se confessa – das marcas que uma imprensa revolucionária iria plasmando no Brasil e no mundo.
Tempos do libertário “Brasil Urgente”, dirigido por frei Josaphat, cujo conteúdo mexia com toda a visão crítica que Walter e sua geração tinha sobre um país debaixo de ditadura.
LEITOR MUITO CRÍTICO
Assim, foi leitor crítico da grande novidade dos anos 1960, a revista Realidade, da Abril, da mesma forma como foi escrutinando como o olhar de grandes mestres do jornalismo brasileiro (um deles, Reinaldo Jardim) e mundiais, como Gay Talese e Truman Capote, com suas propostas de “novo jornalismo”, uma feliz licença juntando relatos de realidades com imersões no literário.
Walter é uma das melhores memórias vivas da história da imprensa local.
Conhece-a de fio a pavio, a partir do jornalismo que viu e ajudou a se modernizar em Curitiba. E do qual foi, muitas vezes, um inigualável meteur em-scène.
(Créditos: Annelize Tozetto e André Nunes)