
A seguir, segue outro “aperitivo” do que o leitor de minha coleção “Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses”, terá a partir de 12 de agosto, quando lançarei o volume onze do livro, às 20 horas (na Sociedade Garibaldi).
Trata-se de resumo do perfil do escritor e jornalista Fernando Scheller, curitibano, cidadão do mundo, especializado em temas econômicos em O Estadão.
Ao fazer mestrado em Ciências Sociais na Alemanha, acabou escolhido pela Universidade de Kassel para lecionar a matéria no seu Curso de Graduação.
Podia levar até 10 horas preparando uma aula, com pesquisas minuciosas, inclusive em dicionários da língua de Goethe. Escritor de ficção, tem livro seu em preparação para uma série, no streaming da HBO. Mas foram as áreas de Negócios e Marketing que mais projetaram o jornalista curitibano, que vive e opera em São Paulo.
LÍNGUA DE MUITOS
Fernando Scheller poderia ter sido apenas mais um dos muitos brasileiros que falam o alemão gramatical e/ou também os dialetos alemães tais como aqueles presentes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rondônia, onde se localizam remanescentes das primeiras colônias deutsche no país. Os alemães começaram a chegar ao Brasil, como colonos, em 1824; o avô de Fernando, Felix, para cá veio nos anos 1930. Há indicativos da presença de alemães, um pequeno grupo, no começo do século 19 na Bahia.
NOTÍCIA QUE A TUDO MOVE
Não posso dizer que o fator linguístico foi o preponderante para que o jornalista paranaense, nascido em Cambé, 45, se tornasse um dos referenciais profissionais especializados no país em Negócios, e Marketing, com uma carreira significativamente sólida em veículos como o G1, “O Globo”, “Gazeta Mercantil”, “Gazeta do Povo”, “O Estado de São Paulo” e a poderosa emissora internacional de rádio e televisão “Deutsche Welle” (Alemanha). Mas estou certo que esse diferencial, com toda a carga cultural que envolve, foi muito valioso. Assim como a facilidade que sempre teve para idiomas e uma curiosidade imensurável diante da notícia, realidades que lhe inculcaram em casa.
Na casa paterna tinha acesso fácil e abundante a jornais e revistas do país. E tinha até conta aberta em bancas de revistas, que ele frequentemente estourava. Foi sua primeira escola de jornalismo.
AFINAL, QUEM É ELE?
Ninguém explica direito outrem. No máximo, pinta-se um perfil, depois de definidos os pontos salientes de cada personalidade. Assim, busca-se ser fiel na composição de um retrato, com o cuidado – e no meu caso, em especial – de evitar a hagiografia, tão comum em mim quando falo de amigos.
No retratar alguém, tudo deve, no entanto, ser pontilhado por algumas certezas, trabalhadas em solo firme. A principal delas, a da estreiteza e limitação de qualquer moldura que resultar ao fim do perfil esboçado.
Faço observações cuidadosas para a composição final desse retrato. Uma delas, a de que Fernando Scheller não se esconde: declina seus amplos universos de escolhas pessoais, relações afetivas duradouras especialmente com amigos, para os quais é muito carinhoso (“lado latino”), segundo a jornalista Marleth Silva, que por anos conviveu com ele na Gazeta do Povo.
O BRASILEIRO FANTÁSTICO
O racional “germânico”, neto de seu Felix, um alemão puro sangue, não escapa, pois, do brasileiro com pitadas de realismo fantástico como as citadas.
Ou será surrealismo brasileiro? Esse Fernando pode ser classificado como ser humano agradável, espirituoso, perspicaz, olhar crítico em permanente “modo atenção”.
Nele transborda o jornalista em todos os momentos, mesmo na convivência do dia a dia com amigos e familiares: Quer detalhes dos fatos; descobrir notícia é parte de seu ethos mais significativo. Pode ouvir e perguntar quase ao mesmo tempo, sem, no entanto, aparentar ansiedade.
Quer o fato, possuí-lo, trabalhá-lo, domá-lo. Nisso, sai-se muito bem.
– Para mim, tudo isso é pão espiritual, diz Scheller, citando Milton, acrescentando: Para outros, expor-se assim é apenas uma questão de sobrevivência material, o que até entendo. É o pão material apenas.
Se no terreno da alma é um homem en route, no plano da política considera-se alguém à esquerda.
ESQUERDA, DIREITA
Brada contra a chamada meritocracia, a qual considera pura balela quando, diz, exige mesmos resultados nas competições pela vida de seres humanos que foram nascidos, criados e formados em total desigualdade de oportunidades materiais e culturais.
Realista até à medula, não acredita em salvadores políticos, muito menos nos modelos que se instalaram a partir das eleições de 2018 no país.
Acredita em gente que foi descobrindo ao longo da vida. Um deles, o cineasta curitibano Fernando Severo, a quem é muito grato, pois lhe abriu os olhos para sua formação cinéfila, na Fundação Cultural de Curitiba; Jaime Lerner, a família Moreira Salles, Eduardo Gianetti da Fonseca estão também no restrito rol de suas admirações.
Cidade para viver? Curitiba, “é claro”.
O porquê da escolha da cidade não é difícil de explicar, está de acordo com esse ser que persegue a exatidão germânica, mas sem desprezar um olhar latino sobre a realidade. São qualidades muito fortes da Curitiba em que o menino de Cambé se criou.

