domingo, 16 março, 2025
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Valdo, o empreendedor, fica com a boa cerveja dos monges

Empório Manfré: cervejas do mundo todo
Empório Manfré: cervejas do mundo todo

Ontem, por acaso, encontrei um velho conhecido, o Valdo Santos, que por anos foi um braço direito de dona Marli, no empório de produtos finos que ela mantém no Mercado Municipal – chocolates, macarrões, vinhos, biscoitos, queijos, chás, quase todos importados.

Embora ele esteja há alguns anos naquelas lojas 284/85 e 308 do Municipal, suas propriedades, só ontem parei para conversar com Valdo que, antes de montar seu próprio negócio, exercitou em Curitiba e em São Paulo o que de melhor sabe fazer: foi sommelier.

O período de longa batalha pela vida Valdo passou ali mesmo, com a citada dona Marli e equipe, na ‘Queijos e Vinhos’. Atendia direto, horas a fio, aconselhando clientes sobre os produtos da casa, como vendedor, como expert em vinhos.

O balcão foi a grande escola desse ‘entrepreneur’ exemplar, hoje dono do seu nariz e das escolhas daquilo que vai vender.

Capital com a venda do apartamento

Valdo é tão confiante no seu taco como comerciante que chegou a vender o seu bem material maior, um apartamento, para empregar os recursos auferidos no Empório Manfré. Ficou sem teto?

Não, mudou-se para a casa do sogro…

Logo que montou sua primeira loja de comestíveis de qualidade, no Box 308, “as coisas iam mais ou menos”, explica-me Valdo. Ele nasceu empreendedor, vou concluindo pela narrativa de uma trajetória de acertos.

Para modificar, então, a situação que apenas “patinava”, ele passou a observar mais atentamente aos pedidos da clientela.

Se não se espantou, ficou surpreso com a ‘pesquisa’: havia uma demanda reprimida muito grande por cervejas de qualidade, nacionais e estrangeiras. A clientela queria porque queria cervejas. Se fossem as trapistas, então, nem falar…

Trapistas, as mais procuradas

Como não sou leitor de redes sociais, nunca poderia imaginar a dimensão que o negócio – o Empório Manfré – que montou com a esposa, foi tomando.

Constato, pelo que ele me conta, que valeu a pena Valdo dar ouvido aos clientes, pois as duas lojas (284/285) estão apinhadas, prateleiras cheias de rótulos exclusivamente de cervejas.

Elas vêm preferencialmente da Europa, são originárias, na maioria, da Holanda, Alemanha e Bélgica onde, não por acaso, estão as mais antigas tradições cervejeiras do mundo. E lá também é que os monges trapistas (que conheço bem, pois já estive em vários de seus mosteiros, estudando a vida trapista e sua relação com as atividades agrícolas) ganharam fama como cervejeiros.

Não sem antes, é verdade, tornarem-se referência na vida monástica católica pelo rigor com que vivem a Regra de São Bento, do ‘ora et labora’.

Valdo é atencioso, “perde tempo” com os clientes e, mais ainda, com os potenciais clientes, gente que nem sempre vai fazer compras imediatas, mas primeiramente quer se informar sobre aquele mundo fantástico em que aparecem 3 a 4 centenas de rótulos internacionais de cerveja.

E numa prova de que está atentíssimo ao seu produto básico, Valdo me informa: passou agora a comprar cerveja de um mosteiro Trapista de Boston.

A mercadoria está para chegar.

Eu me adianto, e arrisco: “Deve ser da Abadia de Nossa Senhora de São José, em Spencer, Massachusets”, digo.

Valdo concorda, meio surpreso com a precisão com que passo-lhe as referências. E mais surpreso quando lhe conto que visitei várias abadias trapistas, na Europa e América do Norte, atraído pela vida agrícola e panifícios desenvolvidos por trapistas de Genesse (Nova York), Oka (Canadá), Miraflores (Chile) e a de Gethsemani, em Kentucky, onde viveu o trapista mais conhecido de sua ordem, Thomas Merton.

Em nenhuma, no caso dessas que visitei, os monges vivem de fabricar cervejas. Todas fabricam pão e cultivam campos imensos.

A exceção dessas que conheço bem é a de Spencer que agora terá seu mais novo produto exposto nas prateleiras de Valdo, no Empório Manfré.

Voltarei ao assunto. Um tema interessante, pois Valdo promete fazer clientela como ‘sommelier’ de cerveja, em festas familiares, em reuniões empresariais, em conferenciais e congressos.

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