terça-feira, 14 outubro, 2025
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Uso indiscriminado de “canetas emagrecedoras” é prejudicial

Com a promessa de resultados rápidos, as ‘canetas emagrecedoras’ se tornaram objetos de desejo nos consultórios médicos, clínicas estéticas e sites de busca da internet. Segundo dados do Google Trends, o termo já superou até mesmo a palavra ‘dieta’ em número de pesquisas.

Nos últimos seis anos, as vendas desses produtos cresceram mais de 660%. “A palavra dieta continua associada à restrição, disciplina e tempo. Já as canetas oferecem a ideia de emagrecimento sem sofrimento, sem mudança de hábitos; um tipo de solução rápida para um problema complexo, como a obesidade”, alerta a coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Integrado de Campo Mourão, Janaiara Moreira Sebold Berbel.

Regulamentação e cuidados

As canetas emagrecedoras disponíveis no mercado brasileiro são medicamentos regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Elas foram desenvolvidas originalmente para o tratamento de Diabetes Mellitus tipo 2 ou obesidade. O preço varia de R$ 600 a R$ 1.800 por unidade.

Quando injetam substâncias que imitam hormônios intestinais, elas promovem a saciedade e retardam o esvaziamento gástrico. A sensação de ‘estômago cheio’ diminui o apetite e, consequentemente, o peso. “Elas são consideradas fármacos de uso controlado, que exigem prescrição médica e acompanhamento especializado. Não são suplementos ou produtos de beleza”, ressalta Janaiara.

“O endocrinologista é quem vai determinar a dose, o princípio ativo e o tempo do tratamento. Fazer uso desses remédios sem acompanhamento pode trazer graves problemas de saúde; seja por efeitos colaterais, reganho de peso ou emagrecimento ineficiente”, alerta a professora do curso de Nutrição do Integrado, Camila Frazão.

Quem consome e por quê?

Segundo Janaiara, quem mais consome as canetas emagrecedoras são as mulheres jovens e adultas. “A cobrança pelo corpo ideal ainda recai de forma mais intensa sobre elas. Muitas já tentaram várias dietas e métodos convencionais sem sucesso. Por isso, recorrem a uma solução aparentemente definitiva”, explica.

A nutricionista alerta que a proximidade do verão faz a procura aumentar ainda mais. “O fator estético ganha pessoa adicional nesta época do ano. Muitas mulheres querem perder de 5 a 10 quilos em poucos meses e alcançar o chamado ‘corpo de praia’, mas isso pode colocar a própria saúde em risco”, adverte.

Perigos do uso indiscriminado

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Apesar da popularidade, as canetas emagrecedoras não podem ser compradas livremente nas farmácias, drogarias e internet. Por serem de uso controlado, exigem receita médica, que fica retida no estabelecimento.

Embora apresentem benefícios à saúde, quando bem indicadas, as canetas emagrecedoras podem causar efeitos colaterais como náuseas, vômitos, diarreia, constipação e dores abdominais. Em situações mais raras, podem ocorrer pancreatite e hipoglicemia.

Emagrecer deve ser entendido como um processo de saúde, de cuidado e não apenas como uma questão de aparência estética. Quando a pressa supera o cuidado, o risco aumenta”, destaca a especialista e nutricionista.

Não existe solução mágica

Camila Frazão reforça que os injetáveis não substituem bons hábitos de vida, como a prática de atividade física e a reeducação alimentar. “Quando isso acontece e o tratamento farmacológico é realizado com acompanhamento médico regular e multidisciplinar – envolvendo nutricionistas, psicólogos e educadores físicos especializados – o emagrecimento é mais eficiente, preserva a massa magra e garante maior estabilidade ao metabolismo”, explica.

Segundo as especialistas, o medicamento deve ser visto como uma ferramenta auxiliar, mas não como solução mágica. “O foco é garantir saúde e qualidade de vida. Não há atalhos seguros para o emagrecimento verdadeiro e sustentável, que passará pela mudança de hábitos e pelo cuidado contínuo com o próprio corpo”, conclui Janaiara Moreira Sebold Berbel.

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