UTFPR quer gerar respiradores, gargalos para enfrentamento da pandemia
Outras universidades do Paraná, além da citada UFFS, campus de Realeza, já focalizada por este blog/coluna, também se engajam na luta contra o coronavírus.
Assim, Unicentro, UEL, UEM, UEPG e Unioeste também devem começar em breve a colaborar com as testagens. Juntos, esses laboratórios universitários adicionarão até 700 exames por dia ao mapeamento do estado. Os kits para os exames e os insumos para a extração de amostras, porém, precisarão ser financiados pelas próprias universidades, pelos municípios, ou por entidades civis.
NA UFPR, MELHOR MOMENTO
Na UFPR, em Curitiba, um estudo está avaliando a eficácia dos diferentes testes rápidos para o coronavírus disponíveis no mercado e também identificando o melhor momento para que eles sejam aplicados no paciente, a fim de tornar os diagnósticos mais ágeis e confiáveis. Os testes rápidos têm uma precisão de resultado muito menor do que os testes moleculares, mas são a única alternativa diante da demanda excessiva e da sobrecarga dos laboratórios.
À BEIRA DO LEITO
“Esses testes são aplicados à beira do leito. Eles ajudam a orientar o tratamento do paciente e, principalmente, ajudam a definir se ele precisa ir pra uma enfermaria com os cuidados de isolamento da covid-19”, explica a professora e infectologista Sônia Raboni, coordenadora da pesquisa.
TECNOLOGIA E CONHECIMENTO
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) se esforça para suprir outro gargalo produzido pela pandemia: o de respiradores mecânicos, que podem salvar a vida dos doentes em estado de grave insuficiência respiratória. Desde o início da epidemia, o preço dos aparelhos no mercado disparou. Em apenas uma semana, no início de abril, a alta foi de 211%, de US$ 24 mil para US$ 53 mil.
SÃO 180 PROFESSORES
Na UTFPR, um grupo de 180 professores, técnicos e alunos obteve o projeto de um modelo desse dispositivo, de uma das fabricantes que quebrou a patente. Agora, o empenho é para entender o funcionamento dos mecanismos e atrair empresas que possam ajudar na fabricação de um respirador com componentes nacionais, que depois de obter a homologação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) poderá ser produzido em uma linha de montagem.

800 PEÇAS NO RESPIRADOR
A operação é complexa. Um respirador mecânico hospitalar tem cerca de 800 peças e componentes. “É um projeto de médio prazo”, acredita Marcos Schiefler, professor de Engenharia Mecânica e diretor-geral do campus Curitiba da UTFPR. “Mas o grupo está empolgado. Todo mundo está 24 horas por dia trocando informações de pesquisas no mundo todo. Com sorte, podemos conseguir mais cedo.”
AGILIZAR INFORMAÇÃO
Na UFPR de Curitiba, o Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (Capa) trabalha justamente para agilizar o fluxo de informações entre cientistas e pesquisadores do Brasil e do resto do mundo. O Centro está recebendo artigos de qualquer instituição ou área do conhecimento, para tradução e revisão gratuita, desde que tenham relação direta com o novo coronavírus. A ideia é fazer o conhecimento circular – e depressa.
MUITO A COMPARTILHAR
“São inúmeros estudos com dados inéditos sobre a covid-19, e que precisam ser compartilhados”, sustenta o professor Ron Martinez, diretor do Capa. “A questão é disseminar, o mais rápido possível, informação que pode salvar vidas no mundo inteiro.”
Nesse cenário, em que o tempo é escasso, a Hotmilk, incubadora e aceleradora de startups da PUC-PR, passou a adaptar projetos que já estavam sendo desenvolvidos para o combate do coronavírus.
HUMAN ROBOTICS
O que mais salta aos olhos é um robô capaz de interagir com seres humanos, produzido pela empresa Human Robotics, que agora poderá prestar o primeiro atendimento a pacientes nas filas de hospitais, na tentativa de desafogar esse fluxo.
Robôs similares a esse foram utilizados na Itália, durante o pico da epidemia, e se provaram boas ferramentas. Além de imunes ao contágio, as máquinas podem trabalhar sem descanso.
TESTE NO CAJURU
No início de abril, o robô da Human Robotics estava sendo testado em Curitiba no Hospital Cajuru. Atualmente, existem 30 modelos. O custo para a fabricação de cada um é de R$ 50 mil.
Outra empresa que faz parte do Ecossistema de Inovação da PUC-PR, a Cargon, mirou na ajuda a outro tipo de profissional essencial e bastante afetado pela pandemia: os caminhoneiros.
CAMINHONEIROS
A empresa, especializada em tecnologia de logística, criou o site https://caminhoneiroheroi.com.br/. Nele, os motoristas de carga podem identificar os estabelecimentos à beira da estrada que se mantém abertos mesmo durante a quarentena, e planejar suas paradas, inclusive para alimentação.
HIGIENIZAR PARA CONTER
Para os profissionais que atuam dentro das estruturas de saúde, os próximos meses devem ser de estresse, sobrecarga e exaustão. Por isso, os departamentos de psicologia de muitas universidades estão abrindo serviços para fazer atendimento remoto e oferecer gratuitamente suporte emocional a médicos e enfermeiros.
Em outros locais, professores e alunos trabalham para produzir o maior número possível dos chamados EPIs – equipamentos de proteção individual – e preservar quem está dentro dos hospitais do contágio.
EM FOZ DO IGUAÇU
Já em Foz do Iguaçu, no extremo oeste do estado, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) começou a produzir uma alternativa ao álcool em gel 70%, utilizado para higienização em hospitais e postos de saúde – extremamente necessário para livrar esses ambientes do vírus, mas em falta no mercado.
Para ser produzido, o álcool em gel leva um componente chamado carbopol, que no mundo todo se tornou difícil de adquirir por conta da demanda dos últimos meses. No lugar dele, a Unila passou a produzir álcool glicerinado 80%.
PODER ANTISSÉPTICO
“O poder antisséptico é o mesmo”, garante Ana Carolina Martins Gomes, responsável pela produção. A diferença, de acordo com ela, é a apenas a consistência final: o álcool glicerinado é líquido e por isso tem uma aplicação menos prática, o que pode ocasionar eventuais desperdícios no dia a dia de um hospital.
OMS RECOMENDA
Mesmo assim, a utilização de álcool glicerinado na falta de álcool em gel é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Toda a produção da Unila, de cerca de 100 litros por dia, é doada ao sistema público de Foz do Iguaçu. A universidade espera, com isso, suprir toda a demanda pelo produto da Secretaria de Saúde do município, que estima que vai precisar de três mil litros nos próximos 60 dias.
Para manter o ritmo de produção, no entanto, a universidade abriu uma chamada pública para receber doações de insumos de pessoas físicas e jurídicas.

BEBIDAS APREENDIDAS
Em Guarapuava, a Unicentro intensificou a produção de álcool em gel a partir do álcool extraído de bebidas apreendidas pela Receita Federal. A produção chega aos 500 quilos por dia, e é distribuída para as secretarias de saúde dos municípios da região central do estado.
INFORMAR E AMPARAR
No Paraná, as universidades também estão mobilizadas para desenvolver ações de informação e esclarecimento aos cidadãos sobre o novo coronavírus.
Bolsistas contratados pelas instituições passaram a reforçar, por exemplo, o atendimento em centrais telefônicas de orientação. Na UEL, o Disque Corona tem 30 bolsistas que não só tiram dúvidas da população sobre a pandemia como também monitoram a evolução de casos já confirmados da covid-19 colocados em isolamento domiciliar. Só nos primeiros quatro dias de funcionamento, a central atendeu quase 500 ligações.

BOLSISTAS DA UEL
Bolsistas ligados à UEL também atuam em postos rodoviários na região de Porecatu – divisa com o estado de São Paulo, o mais afetado pela pandemia no Brasil – e na Ceasa de Londrina. As abordagens, por ora, são de orientação. “É mesmo pra identificar e orientar as pessoas que estão chegando de fora. Se ela vai ficar hospedada na casa de um parente, repassar as orientações”, explica a pró-reitora de Extensão da UEL, Mara Solange Gomes Dellaroza.
Ao todo, são cerca de 70 bolsistas de várias universidades atuando nas divisas rodoviárias do estado. O monitoramento de entrada e saída de pessoas é feito nos postos de atendimento da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
PERDENDO EMPREGOS
A crise do coronavírus é global, é sanitária – mas é também econômica. O primeiro esforço é para salvar vidas, mas os impactos financeiros das medidas de quarentena, que incluem o fechamento de serviços, não são ignorados pela academia.
Uma projeção feita por várias instituições, incluindo a UEL, concluiu que apenas nas primeiras três primeiras semanas de quarentena no Paraná podem ter sido fechados 60 mil postos de trabalho formais. E quase oito mil empresas podem ter desaparecido, a esmagadora maioria micro e pequenas.
“O objetivo desses dados é oferecer base para ações estratégicas. Os dados projetados não são deterministas e ações das esferas de governos podem minimizar os efeitos previstos”, esclarece o estudo.
NA PUCPR, HOTMILK
Na PUC-PR, a Hotmilk, em parceria com o Sebrae e o Governo do Paraná, tem prestado serviços de mentoria para ajudar empresas de base tecnológica a atravessar a crise econômica já instaurada. E não apenas as pequenas. “Muitas empresas de médio porte viram seu faturamento cair de 100 pra zero em duas semanas”, ilustra o professor Fernando Bittencourt Luciano, diretor da Hotmilk.
Para amparar a população ainda mais vulnerável, a Universidade Católica tem promovido campanhas de arrecadação de cestas básicas e produtos de higiene para os moradores da Vila Torres, comunidade pobre vizinha à sede da PUCPR em Curitiba.

CÉLULA ESPECIALIZADA
Para os próprios alunos, a PUCPR criou Célula Especializada em Atendimento Financeiro, que tem renegociado caso a caso o pagamento das mensalidades. Pra quem tem dificuldade com a data da quitação, por exemplo, mas ainda assim consegue efetuar o pagamento no mesmo mês, foram abolidos juros e multas.
A universidade também efetuou o empréstimo de 330 computadores e 178 modens 4G para que os alunos que não tinham uma infraestrutura mínima pudessem seguir tendo aulas remotas.
AÇÕES SOLIDÁRIAS
Na UTFPR, uma campanha arrecadou 650 cestas básicas para os estudantes mais vulneráveis, que moram distantes da família e mesmo assim não puderam voltar pra casa em meio à crise. Das 650, 500 cestas foram distribuídas para alunos. O excedente foi direcionado para funcionários terceirizados, que tiveram salários cortados pelas empresas, e uma parte ainda repassada para o Instituto Federal do Paraná (IFPR). (colaboração de Sandoval Poletto)