Por Diego Antonelli (trecho extraído do livro Paraná: Uma História, Arte&Letra, 2016) – A rotina indígena começou a mudar logo que os primeiros colonizadores europeus pisaram no atual território paranaense. Até 1549, o norte do litoral do estado (na região de Guaraqueçaba) era ocupado por aldeias de Tupiniquins, de língua Tupi. Em 1560, a baía de Paranaguá era habitada por Carijós, de língua Guarani, quando foi descrita por viajantes europeus. Nessa época, o Brasil estava dividido. O Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha, colocava grande parte do atual território paranaense, a oeste de Paranaguá, como sendo espanhol. A Portugal cabia praticamente apenas a faixa litorânea.
Na região oeste, que ficou conhecida como Província del Guairá e povoada por grupos indígenas das famílias linguísticas Tupi e Jê, a Coroa Espanhola fundou três cidades. A primeira, em 1554, recebeu o nome de Ontiveros. Essa foi, efetivamente, a primeira povoação europeia no território que hoje pertence ao Paraná. Ontiveros foi fundada nas margens do Rio Paraná, perto da foz do Rio Ivaí. Para isso, os espanhóis usaram 80 homens armados e chegaram a possuir um grande número de índios escravizados.
Depois, entre 1556 e 1557, a vila foi transferida para as proximidades da foz do rio Piquiri e passou a ser chamada Ciudad Real del Guairá – cujas ruínas atualmente estão localizadas no município de Terra Roxa.
A terceira e maior foi Villa Rica del Espiritu Santo, em 1570, primeiro no atual município de Nova Cantu e depois, em 1589, onde se localiza o município de Fênix, área central do Paraná, onde está situado o Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo, que possui um museu aberto à visitação. A mudança de endereço se deve, entre outros fatores, à ocorrência de epidemias na antiga localidade. Por muito tempo os índios foram escravizados para a exploração de pedras ágatas, que os espanhóis julgavam serem preciosas, e para a extração de erva-mate, que era exportada para Europa via rios da Prata e Paraná. Nas palavras do historiador Ruy Wachowicz, Villa Rica “tornou-se um importante centro escravista de índios”.
Essas vilas espanholas, fundadas em território hoje paranaense, fizeram parte da Província do Vice-Reino da Prata ou do Guairá, cuja capital era a atual cidade de Assunção, no Paraguai. Ao todo, a Ciudad Real del Guairá durou 75 anos e Villa Rica, 62 anos.
Ao longo desse período, a Coroa Espanhola determinava que a população indígena deveria ser catequizada e iniciada em algum ofício pelos conquistadores. Em troca, os índios teriam que “pagar uma taxa”, ou seja, prestar serviços aos colonizadores espanhóis (chamado de sistema de encomienda). Trocando em miúdos, os índios trabalhariam de graça para os espanhóis, o que evidentemente os tornaria escravos dos colonizadores europeus.
Revoltados com a situação, não foram raros os levantes das tribos contra os homens brancos. No entanto, a arqueóloga Claudia Parellada explica que de 1610 a 1628, numa tentativa de conquistar o Guairá com menor número de conflitos com os grupos indígenas Guarani e Jê, foram criadas 15 missões jesuíticas da Companhia de Jesus que tiveram apoio da Espanha.

*Diego Antonelli é jornalista e escritor, reconhecido por seu vasto trabalho no jornalismo histórico e etnográfico no Paraná. Formado pela UEPG com mestrado pela UFPR, Diego é especialista em contar a história do Paraná, suas culturas e povos imigrantes. Autor de 16 livros.
