quarta-feira, 30 abril, 2025
HomeOpinião de ValorSuperlotação ou ônibus vazios: falhas na gestão do transporte

Superlotação ou ônibus vazios: falhas na gestão do transporte

Assessoria – Contrastes no transporte coletivo em várias cidades brasileiras escancaram o desequilíbrio na distribuição das frotas, impactando diretamente os cofres públicos. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) aponta que os gastos com urbanismo e infraestrutura – onde se encaixa o transporte público nos municípios – costumam consumir entre 10% e 15% do orçamento, perdendo apenas para as áreas da saúde e da educação. Especialistas do Instituto Brasileiro de Estudos Técnicos (IBETA) afirmam que, com a gestão adequada dos dados disponíveis, é possível planejar melhor o sistema de transporte coletivo, fazendo com que o serviço deixe de ser um peso aos caixas municipais, como ocorre hoje.

 Willian Keller, diretor técnico do IBETA, fala que todas as cidades que contam com frotas para atender à população estão sujeitas à oscilação do fluxo de passageiros nos diferentes horários do dia. Esse cenário, no entanto, é previsível e pode ser planejado para equacionar o atendimento, conforme a demanda. “Hoje, o que ocorre, é que grande parte dos sistemas de controles das frotas são rudimentares e isso não permite aos gestores fazer o cruzamento dos dados ou mesmo revelar as deficiências do sistema. A maioria das cidades brasileiras ainda opera o transporte coletivo com base em planilhas fixas e históricos desatualizados”, analisa.

Segundo ele, atualmente existem soluções que permitem acesso em tempo real à localização dos ônibus, número de embarques, tempo de espera e até padrões de comportamento dos usuários. “Esses dados precisam ser transformados em decisões estratégicas e economia ao poder público”, afirma.

Contrastes

A falta de planejamento dinâmico leva a um cenário de contrastes extremos: de um lado, superlotação; de outro, ociosidade do sistema. “Isso gera insatisfação para os usuários e prejuízo para o sistema como um todo”, destaca.

De acordo com levantamentos realizados pelo IBETA, até 25% da frota de algumas cidades opera com baixa ocupação fora dos horários de pico. “Nas cidades em que atuamos, nossas soluções cruzam dados de GPS, bilhetagem eletrônica e sensores para oferecer diagnósticos detalhados das redes de transporte. Com isso, é possível identificar horários críticos, itinerários com baixa demanda e ajustar a operação para atender melhor a população sem, necessariamente, aumentar os custos”, salienta.

Keller enfatiza a necessidade de se promover uma mudança de mentalidade sobre o impacto do transporte urbano no cotidiano das cidades. “Ainda tratamos o transporte como algo estático, mas ele é vivo, muda com o comportamento das pessoas, com o clima, com o calendário. Um sistema inteligente precisa acompanhar essas mudanças”, afirma o diretor.

No entanto, o especialista pontua que essa transformação digital precisa vir acompanhada de ajustes nos modelos de gestão. Além das questões contratuais, monitoramento da frota, trata-se de um setor que precisa contar com mecanismos de acompanhamento e auditoria independentes para garantir o cumprimento da legislação e o equilíbrio econômico-financeiro do sistema, assegurando um serviço eficiente e sustentável.

Keller ressalta que, frente às dificuldades financeiras agravadas pela queda de demanda desde a pandemia, é necessário buscar alternativas para reduzir a dependência de subsídios sem comprometer a qualidade do serviço. Segundo ele, isso inclui a otimização operacional com base em análises constantes de eficiência, priorização de políticas públicas que favoreçam o transporte coletivo e a diversificação das fontes de receita. “Oferecer ao passageiro um serviço de qualidade vai muito além do que apenas garantir a manutenção da estrutura. Exige inteligência, flexibilidade e visão de futuro. O planejamento baseado em dados pode ser o primeiro passo para transformar o transporte coletivo em uma opção verdadeiramente eficiente, confortável e confiável para todos”, argumenta.

Leia Também

Leia Também