Assessoria – Em um marco histórico para a conservação da biodiversidade e para o setor da saúde no Brasil, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) viabilizou a primeira operação do país envolvendo a aquisição de créditos de biodiversidade por uma instituição hospitalar. A parceria pioneira foi firmada com o Complexo Pequeno Príncipe, um dos maiores e mais reconhecidos hospitais pediátricos do Brasil.
A aquisição inicial de cinco mil créditos de biodiversidade, ao custo de US$ 15 mil, representa um terço da estimativa total necessária para compensar os impactos ambientais não mitigáveis da instituição. A assinatura do termo de antecipação de compra, realizada em um encontro no Complexo Hospitalar Pequeno Príncipe, em 26 de junho, oficializa o compromisso voluntário e inaugura um novo e estratégico mercado no país, com potencial para transformar a forma como as corporações em geral empresas se relacionam com a natureza.
A SPVS, organização com 40 anos de atuação na proteção da biodiversidade da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados, é a primeira organização brasileira certificada para gerar Créditos LIFE de Biodiversidade, com base em parte dos 19 mil hectares de áreas naturais que mantém no litoral norte do Paraná, na Grande Reserva Mata Atlântica. A certificação foi concedida em novembro de 2024 pela empresa Neocert Certificações Florestais e Agrícolas, a partir da Metodologia LIFE, desenvolvida ao longo de 15 anos com base em critérios técnicos robustos e reconhecimento internacional.
“Hoje, celebramos mais do que uma parceria. Celebramos um exemplo concreto de liderança e coerência com a missão do Complexo Pequeno Príncipe. A iniciativa de reconhecer o custo da natureza e incorporar essa lógica à sua gestão é uma provocação necessária ao setor produtivo brasileiro”, afirmou Clóvis Borges, diretor-executivo da SPVS. “Estamos falando de uma instituição filantrópica, voltada à saúde, que compreendeu com profundidade a urgência de proteger a biodiversidade — especialmente em um bioma tão pressionado quanto a Mata Atlântica”, disse o diretor.
Para Regiane Borsato, diretora-executiva do Instituto LIFE, a operação representa uma inflexão simbólica na forma como organizações compreendem seu papel na proteção ambiental. “O que celebramos hoje é histórico. Uma instituição de saúde, filantrópica, referência no cuidado com crianças, torna-se a primeira do mundo a realizar uma compensação com créditos de biodiversidade. Isso marca uma nova era na relação entre conservação e responsabilidade ambiental corporativa.”
Créditos de Biodiversidade

Os créditos de biodiversidade são unidades certificadas que representam ganhos reais e mensuráveis em ações de conservação da natureza — como a proteção de ecossistemas, a recuperação de áreas degradadas e a manutenção de serviços ambientais. Com base em metodologias reconhecidas, como a do Instituto LIFE, os créditos integram a biodiversidade à gestão ambiental corporativa, posicionando áreas naturais conservadas como um ativo estratégico frente à crise climática, hídrica e sanitária.
“Cuidar da biodiversidade é também enfrentar a emergência climática e garantir a sustentabilidade das instituições. Não basta fechar a torneira — é preciso proteger as áreas naturais que garantem essa água”, completou Regiane.
Compromisso além da compensação
Além de adquirir os créditos, o Complexo Pequeno Príncipe está em fase avançada para obter a Certificação LIFE de Negócios e Biodiversidade, o que o tornará a primeira instituição de saúde do país a conquistar essa qualificação. O processo exige o mapeamento das pressões ambientais causadas pela operação e a adoção de medidas que excedem as obrigações legais, como ações voluntárias perante a aquisição de créditos, dentro do regramento oferecido pela metodologia LIFE.
“Já fazemos muito na busca por eficiência no uso de energia e água, na redução de emissões e na gestão de resíduos. Somos carbono neutro desde 2021. Mas, diante da gravidade da crise climática, isso não é suficiente. É preciso ir além, com atitudes concretas e responsabilidade”, declarou José Álvaro Carneiro, diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe.