Assessoria – Em um contexto no qual o Brasil conta, hoje, com cerca de 33 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com o IBGE, o tratamento adequado da doença de Alzheimer e outros tipos de demência torna-se cada vez mais relevante. Neste mês, acontece o Setembro Lilás, campanha que promove a conscientização sobre a doença, seus tratamentos e cuidados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população do mundo que possui algum tipo de demência é de aproximadamente 55 milhões, com 70% dos casos classificados como doença de Alzheimer. No Brasil, o levantamento de 2024 do Ministério da Saúde aponta que 1,2 milhão de brasileiros convivem com a doença.
As projeções destes órgãos, no entanto, geram ainda mais preocupação. De acordo com a OMS, estima-se que, nos próximos 25 anos, o número de pessoas com algum nível de demência pode saltar para até 152 milhões de diagnósticos. O Brasil acompanharia este salto, com um aumento de até 206% nos casos de Alzheimer, chegando 5,7 milhões de casos até 2050.
A doença de Alzheimer no dia a dia
Leonardo Lopes, coordenador de geriatria da Afya Educação Médica Curitiba, apresenta alguns pontos para entender como uma pessoa diagnosticada com a doença de Alzheimer pode ter qualidade de vida e bem-estar, para amenizar os sintomas.
“O paciente precisa estar inserido dentro de um ambiente em que as pessoas próximas compreendam qual é a sua dificuldade, sem exigir dele algo que ele não consiga mais oferecer ou o contrário, que é colocá-lo de lado como uma pessoa inútil. O conceito correto aqui é o da adaptação, da calibração para uma realidade de vida em que o idoso se insira em seu ambiente social, familiar e comunitário dentro dos limites possíveis”.
Lopes ainda reforça que a necessidade de separar o ser humano da doença que ele possui, isto é, não reduzir o paciente ao seu diagnóstico, criando um estigma que não o ajuda em momentos de lucidez que sim, existem.
“Isso funciona como um carimbo, em que todo mundo entende que a pessoa não pode participar de nada, que tudo o que ela diz não faz sentido e que há um esquecimento total. Isso é ruim porque é impreciso: os défcits de memória não acontecem em 100% do tempo e, em algum momento, o idoso vai perceber a exclusão”, conta o geriatra da Afya Curitiba.
Segundo o profissional, a melhor maneira de convivência com a doença, tanto para o paciente quanto para seus familiares e amigos, é o acolhimento adequado, o que inclui o desenvolvimento de atividades que mantenham o idoso com um bom nível de atividade diária.
“Da mesma forma que a exclusão é percebida pelo paciente, o acolhimento também é. A doença, por si só, causa sofrimento e solidão, então é importante que a família se antecipe a isso e, por exemplo, mantenha a pessoa ocupada com algumas atividades no dia a dia, pois isso será excelente para o seu convívio com a doença. Quanto mais ativa e acolhida é a pessoa, melhor será a sua qualidade de vida”, observa o geriatra.
Como combater a doença?
Se, até pouco tempo atrás, a postura médica em relação à doença de Alzheimer se baseava essencialmente em tratamentos que facilitassem a convivência do paciente com o quadro clínico, hoje já há uma nova esperança; em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou os testes do medicamento Kisunla, que atua no combate à doença.
Mesmo sem previsão de comercialização, o neurologista da Afya Educação Médica Belo Horizonte, Drusus Perez Maquez, ressalta que é preciso uma preparação para que o medicamento represente, uma mudança de paradigma sobre a doença.
“Pelas informações às quais temos acesso, o medicamento age fundamentalmente em fases pré-clínicas, que é a doença em estágio inicial. Portanto, precisamos aumentar a nossa capacidade de realizar diagnósticos precoces, o que exige uma estrutura mais complexa, pois ainda estamos detectando muitos casos de forma tardia. Mas é uma esperança”, afirma Marquez.
Medicamentos e diagnósticos precoces, porém, não eliminam a necessidade de prevenção e cuidados necessários para evitar, ao máximo, as chances de manifestação da doença.
“O principal fator de risco é a idade. Mas, para além dela, o fator genético também deve ser considerado, pois sabemos que uma parte importante do risco de Alzheimer vem da família. Outros fatores ainda incluem o diabetes, a pressão alta, o sedentarismo e também o uso de cigarro e bebida alcoólica”, reforça o neurologista.