Assessoria – A saúde mental dos brasileiros precisa de ajuda. Segundo dados de 2024 do Ministério da Previdência Social, mais de 470 mil pedidos de licença médica, em razão de algum transtorno, foram concedidas em todo o país, o que significa um aumento de 68% em relação à amostragem anterior.
Entre os transtornos mais citados como responsáveis por estas licenças, estão a ansiedade, com mais de 140 mil casos, diferentes formas de depressão, que somam cerca de 165 afastamentos, e a bipolaridade, com aproximadamente 51 mil pedidos de licença.
No Paraná, os números ainda mostram que o Estado ocupa o sexto lugar em número de afastamentos, com um recorde de 24 mil casos. Como efeito, um levantamento da Secretaria da Saúde (Sesa) indica que a sua linha de cuidado em saúde mental registrou, apenas em 2024, mais de 2 milhões de atendimentos individuais.
Nívea Schweiger, psiquiatra da Afya Educação Médica Curitiba, apresenta um panorama dos principais transtornos de saúde mental, como os seus sinais, os primeiros passos para entender o que está acontecendo e de que maneira um profissional pode contribuir para combater fatores que impactam negativamente na qualidade de vida dos pacientes.
De que maneira é possível uma pessoa reconhecer que algo está errado com a sua saúde mental? Existe algo em comum entre os diferentes transtornos que permite esse reconhecimento de que “tenho um problema”?
“Existe sim: é a percepção que um certo sentimento, pensamento ou comportamento está afetando de maneira exagerada várias áreas diferentes da vida da pessoa. Com isso, ela começa a se dar conta que, de maneira sustentada, tem tido problemas e muito sofrimento em decorrência dos sintomas, o que pode ser perceptível para pessoas próximas ou não”.
Em todo o Brasil, mas de 470 mil pessoas, apenas no passado, pediram afastamento do trabalho em razão de transtornos de saúde mental. Quais sinais, durante um dia de trabalho, podem indicar que é preciso pedir uma licença médica?
Os sintomas podem variar em cada caso, mas de maneira geral, vale ligar um alerta quando a pessoa começar a ter impaciência exagerada, sensibilidade interpessoal aumentada, piora do raciocínio ou percebe que leva muito mais tempo para realizar uma tarefa que antes era rápida. Além disso, há sintomas como uma ansiedade intensa relacionada ao trabalho, ou mesmo indiferença, esgotamento, entre outros.
O que é importante observar é se esses sintomas são sustentados ao longo do tempo, se isso causa problemas para a pessoa e, eventualmente, para outros. Não se trata de ter apenas um dia ruim no trabalho, o que pode acontecer com qualquer um, mas sim a recorrência e os prejuízos desses sintomas”.
No mesmo levantamento, foi apontado que a ansiedade é o transtorno que mais gera afastamentos. Quais são os seus principais sintomas e qual é o primeiro passo do seu tratamento?
Em geral, todos os tipos de transtornos ansiosos compartilham uma espécie de antecipação de ameaça futura, algo excessivo e com muito sofrimento. Eles envolvem a sensação de medo de algo que pode existir, como o medo de interações sociais, mas também o medo de situações imaginadas, de modo catastrófico e superdimensionado. Por outro lado, o paciente pode também querer evitar situações que gerem ansiedade, o que cria um ciclo vicioso e disfuncional para a pessoa.
Além disso, são comuns alguns sintomas corporais, como taquicardia, respiração acelerada, tremores, dificuldade no sono, tensão muscular, entre outros. Como o paciente direciona a maior parte do seu tempo para as preocupações, isso se converte em prejuízo no trabalho, no estudo e nas relações interpessoais.
O primeiro passo do tratamento é a identificação adequada de qual tipo de transtorno ansioso a pessoa tem. Embora a parte medicamentosa não se altere tanto, há casos onde é preciso usar medicamentos e assim o direcionamento da psicoterapia muda – e esse é um dos pilares do tratamento de quadros ansiosos.
Os quadros de depressão também apresentaram um número representativo na pesquisa. O que exatamente é um transtorno depressivo e como é possível identificar um?
Em um episódio depressivo, a pessoa nota uma mudança relevante no jeito habitual dela de funcionar; aquela sensação de tristeza ou falta de vontade de fazer o que gosta. Isso pode impactar no peso, no sono e também na sensação de perda de energia, de culpa e inutilidade. Assim, a clareza de ideias pode ficar comprometida e, em alguns casos, levar a pensamentos como o do suicídio. Para caracterizar um transtorno, esses sintomas tem que estar presentes por, pelo menos, duas semanas.
Cabe ressaltar que nem todo quadro depressivo é igual. A avaliação médica é importante, pois os sintomas podem ser secundários a questão clínica. O psiquiatra também avalia se os sintomas depressivos fazem parte do que chamamos de depressão unipolar ou bipolar, uma diferenciação que pode alterar o tratamento.
Para um paciente que está passando por dificuldades com a sua saúde mental, como ele é recebido em uma consulta psiquiátrica?
O psiquiatra deve estar preparado para criar um ambiente acolhedor, respeitoso e confiável para que o paciente conte os seus sintomas e dificuldades a alguém que pode ajudar. A consulta precisa de um tempo adequado, pois o profissional precisar escutar o que a pessoa está dizendo e, a partir disso, avaliar o estado mental, fazer um diagnóstico e sugerir um tratamento que seja certeiro para o paciente, respeito a sua individualidade.