Salve a data: a partir das 19h30 min do dia 25 de agosto, uma segunda-feira, estará sendo lançado o sexto volume do meu livro Vozes do Paraná. Será na mansão histórica (erguida por arquiteto sueco, final do século 19), a Vila Sophia, Rua Barão de Antonina, esquina de Mateus Leme.
O Vozes do Paraná – que alguns dizem que “é uma espécie de Who is Who” da terra, terá no volume 6 personagens donas de histórias fascinantes, como Adalice Araújo, Airton Oppitz, Anderson Furlan, Antônio Felipe Wouk, Assis Gurgacz, Clèmerson Merlin Clève, Cleto de Assis, Conceição Barindelli, Elias Abrahão, Fernando Fontana, Francisco Borsari Neto, Ivo Simas Moreira, Jaime Zenamon, João José Werzbitzki , José Rodolfo Gonçalves Leite, Léo Kriger, Luiz Fernando Pereira , Mara Cornelsen, Maria Cheung, Maria Elisa Paciornik, Maria Tereza de Queiroz Piacentini, Mário De Mari, Mauri König , Miguel Krigsner, Nilson Monteiro, Paulo Eugênio Anunciação, Paulo Mac Donald, Pedro Muffato e Saul Raiz. Atualização: Cassiana Lacerda…
Como amostra da edição de 643 páginas e 870 fotografias, transcrevo trechos do perfil do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner:
2 – FLORESTA SEM PÁSSAROS
“… um desdobramento infinito na vida de Krigsner e de sua indústria foi a viagem que fez em 1980 a Nuremberg, Alemanha, em busca de comprar vidros especiais de uma grande indústria alemã para O Boticário.
Lá Miguel foi além do mero comprador de artísticos recipientes para seus perfumes, assim como igualmente fez encomendas baseadas em concepções dos designers de O Boticário. Teve um choque e, ao mesmo tempo, experimentou um ‘fiat’, o ‘faça-se a luz’, quando, a convite dos anfitriões, foi conhecer uma floresta sem pássaros. Isso mesmo: sem pássaros, absolutamente silenciosa.
Impossível aceitar aquela ‘paz de cemitérios’, proclamou Miguel, meio estupefato.
Mas dali saiu com novas ideias e alguns projetos de vida.
Foi naquele momento que se solidificou em Miguel a consciência ecológica, que depois se faria uma espécie de segunda natureza do farmacêutico empreendedor.
3 – FLORESTA SEM PÁSSAROS
“…Miguel não poderia, naquela viagem à Alemanha, imaginar algo mais chocante do que o reflorestamento à sua frente: de certa forma estéril, sem vida, com absoluta ausência de pássaros. Uma floresta silenciosa. Tudo ao contrário da realidade brasileira, numa época em que os cantos de pássaros ganhavam muito mais do que espaços científicos, tais como os escancarados por ornitólogos como John Dalgas Fritsch em suas gravações.
Os cantos captados por Fritsch se transformavam em ‘hit’ no espaço fonográfico, com LPs que iam ganhando a admiração do mundo. Uma preciosidade, raridade naqueles dias.
Talvez até por isso, o enorme choque da floresta silenciosa, produzido no empresário vindo de um país do verde e das florestas vivas, não poderia ter gerado maior impacto. Foi tão grande que, a partir da visita, produziu-se em Miguel uma conversão instantânea à causa ecológica; pareceu uma espécie conversão religiosa, mística, imediata, geradora de enorme metamorfose interior.”
4 – APOSTOLADO ILIMITADO
Dali em diante, Miguel passou a ser apóstolo sem limites das propostas conservacionistas e de ampla defesa do meio ambiente.
Assumiu a defesa da vida ‘lato sensu’, cercou-se de especialistas. E assim, suas ações passariam a contemplar desde a preservação da arara azul em extinção no Cerrado, uma espécie de jacaré do Pantanal, às baleias do litoral catarinense, em meio a um sem número de outras ações ousadas. Tudo garantido com investimentos maciços, financiando pesquisas ecológicas. Pesquisas que chegam a 150 por ano, envolvem financiamentos de milhões de reais, e significam criteriosa avaliação de conselho técnico da Fundação. E que, em certas situações, podem contar com o apoio de organismo de porte como o Banco Mitsubishi.
Investimentos que não mais pararam. Um deles foi feito na reserva das Serra do Tombador, Mato Grosso, 8 mil hectares de floresta preservada e voltada à pesquisa ecológica. Aliás, a ideia inicial era a Fundação O Boticário de Preservação da Natureza apenas financiar projetos de pesquisas.”
5 – SEMENTE EM TERRA FÉRTIL
“…A grande mudança resultou, também, é importante dizer, de uma semente fértil, plantada em seu espírito em 1973, quando Miguel participava de um curso de extensão em Farmácia ministrado por José Lutzemberg, aquele que pode ser citado como o primeiro campeão brasileiro de defesa da causa ecológica, bandeira que desfraldou em 1963.
Do encontro com Lutzemberg, o agrônomo que no começo dos 1960 criara a Associação Gaúcha de Proteção à Natureza (AGAPAN) (responsável por campanhas memoráveis, como a contra a poluidora fábrica de papel Borregard, em Porto Alegre) – houve desdobramentos de descobertas. O mais importante deles: Lutzemberg abriu os olhos de Miguel ao propor-lhe a leitura de obra seminal sobre a preservação do meio ambiente, de Rachel Carson, o livro “A Primavera Silenciosa”.
6 – O OUTRO MIGUEL
“…A consolidação da Fundação é, em parte, fruto de aconselhamento de um outro Miguel, o engenheiro agrônomo e professor da UFPR, o curitibano Miguel Milano que virou acólito, colaborador, consultor e conselheiro seguro de Krigsner a partir de 1989.
Coube a Milano, por exemplo, desmontar, a partir de argumentos sólidos, a ideia inicial de Miguel de entregar a cada cliente que comprasse produtos de O Boticário um certificado que corresponderia a compromisso de a empresa de plantar, em contrapartida, uma árvore. Seria prova cabal de seu engajamento na questão ambiental, essa era a ideia.
Milano clareou a realidade: os negócios já iam muito bem em O Boticário e, com o andar da carruagem, como garantir terra para reflorestamento das compras que cresciam enormemente todos os meses? questionou.
Na época as vendas já iam passando da casa dos 3 milhões, segundo o jornalista Marcos Sá Correa…
Na verdade, o idealista Miguel Krigsner se antecipara ao empreendedor industrial e comercial. Com a ideia do certificado, se inspirava no exemplo de fundação ambiental de Israel, a quase lendária KKL, que promovera a recuperação de áreas degradadas daquele país e transformara partes do puro deserto em terras preenchidas por hortifrúti, de um lado, e flores de outros. Um milagre brotado das mãos, mentes e corações obstinados.”
7 – OS CERTIFICADOS DA KKL
A campanha de O Boticário, de entrega de certificados de compromisso de plantação de árvores, não se consumou. Até porque Krigsner acabou definindo: não pretendia ver suas ações ambientais vinculadas a ações de marketing de O Boticário. (Nessa área do marketing, a empresa já contava com a competência e criatividade de Eloi Zanetti, velho amigo de Krigsner).
E isso se tornou um dogma, jamais quebrado na empresa, afiança Miguel.
Mas o desenho da Fundação O Boticário de Preservação da Natureza não foi uma solução simples. E até por isso, nasceu com credibilidade – “o complicado da fundação dará credibilidade”, costumava pregar Milano, recorda Krigsner.
Mais que ‘complicada’, em sua visão renovadora, a Fundação nasceria endossada por gente de ressonância internacional na questão ambiental, como o almirante Ibsen Câmara, Maria Tereza de Jorge Pádua e Jaime Lerner, entre outros notáveis avalistas dos propósitos de Krigsner. A esses nomes, suficientemente abalizadores de tamanho projeto, se somariam outros de também enorme dimensão, com o passar dos dias.”