sexta-feira, 18 julho, 2025
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“RIDENDO CASTIGAT MORES”: RECORDANDO O ‘CLUBE DA PIADA’ DE CURITIBA

Em sala reservada em restaurantes, alguns tipos humanos identificadores de Curitiba soltavam o verbo. Piadas, muitas impublicáveis, compunham repertórios “históricos”.

Eloi Zanetti: em sala reservada; Bernardo Bittencourt: presença certa; Gerson Guelmann: piadista impagável; Gerson Zafalon: não perde uma; Chico Anysio: arquivos implacáveis

Quando morava em Curitiba Eloi Zanetti organizava um grupo só de contadores de piadas. Amigos se reuniam de tempos em tempos em algum restaurante que tivesse uma sala reservada para que pudessem contar piadas. Ambiente fechado para não incomodar os fregueses da casa ao contar as mais picantes e politicamente incorretas. Os bons contadores ocupavam a mesa principal e os convidados ficavam ao lado escutando, enquanto era servido o jantar.

Esse grupo fechava com os romanos e com Gil Vicente: “ridendo castigat mores”, “corrige os costumes rindo…”

 

UM TIME REFORÇADO

A técnica de reunir bons contadores de piadas ajuda a recordação – alguém conta uma piada de papagaio (das antigas) o outro se lembra de uma com o mesmo tema e as piadas vão surgindo. O grupo mudava sempre de participantes por causa da disposição de tempo de cada um. Nomes conhecidos com o médico Gerson Zafallon, os executivos José Melo e Peri Dias, o saudoso jornalista Bernardo Bittencourt, o publicitário Ricardo Gameiro, o empresário e político Cesar Franco, o psiquiatra Mario Negrão, o jornalista e escritor Eduardo Sgarnzela e o humorista Diogo Portugal foram alguns dos bons piadistas participantes.

 

MUITOS CONVIDADOS

Eloi conta que certa vez estava em uma consulta médica, pela primeira vez, isto é, mal conhecia o médico e teve que atender ao celular. Pediu desculpas ao médico e falou com alguém sobre o programa daquela noite de contação de piadas. O médico escutou a conversa e falou: “Você não vai me deixar fora dessa. Estou me convidando e quero levar o meu sogro, fazendeiro de Maringá, um grande contador de piadas.” – foram convidados e o fazendeiro tomou conta do grupo de tão bom que era em contar piadas.

 

AGORA, NAS REDES SOCIAIS

A onda do politicamente correto tem prejudicado os bons contadores de piadas – tudo ficou proibido ou é considerado de mal gosto. Até os profissionais do stand-up têm encontrado dificuldades em suas expressões. Hoje o que se vê são piadas montadas na forma de pequenos esquetes em vídeos. A arte da contação de piadas está mudando, grupos já não se reúnem mais e o gosto por boas risadas entre amigos está ficando difícil.

Até Freud se interessou pelo assunto.

 

DEZ MIL PIADAS

Existem vários tratados científicos sobre o chiste (dito espirituoso, gracinha) e o inconsciente abordados por vários psicanalistas. O assunto vai mais longe do que a gente imagina. Dizem que o Chico Anísio tinha em arquivo mais de dez mil piadas e considerava haver 10 situações recorrentes e iguais na montagem de uma boa piada. Não é à toa que a reprise do velho programa A Escolinha do Professor Raimundo é hoje uma das poucas coisas boas para se ver na TV aberta.

Eloi lamenta, na época, não ter ainda conhecido pessoalmente o Gerson Guelmann um dos melhores contadores de piada da cidade. Ele iria enriquecer em muito o nosso grupo.

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