Assessoria – O ano de 2024 já é considerado um dos mais afetados por queimadas da última década. Os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostram que foram registrados 80 mil focos no mês de setembro, 30% acima da média histórica, compilada desde 1998.
As queimadas têm causado danos severos aos biomas brasileiros, ameaçando não apenas a biodiversidade, mas também o equilíbrio ambiental, a saúde humana e a economia. A Amazônia, o Cerrado e o Pantanal são os mais afetados por esse fenômeno, que se intensifica durante os períodos de seca e se torna mais exacerbado com as mudanças climáticas. De acordo com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os incêndios criminosos ocorrem no País com mais intensidade nos últimos 30 anos.
Diante desse cenário, é preciso tomar ações urgentes nas áreas consumidas pelas queimadas. O biólogo e pesquisador do Lactec, Marcelo Alejandro Villegas Vallejos, explica que, sem a ação humana, a regeneração pode levar o dobro do tempo. “A recuperação depende de fatores diversos, mas podemos considerar o mínimo de 5 anos para a vegetação nativa começar a se regenerar e crescer naturalmente. Isso é, o crescimento ocorre, mas aqueles ambientes vão começar a ter funções ecossistêmicas mais similares à vegetação original somente após esse tempo de regeneração. Isso é o que chamamos de sucessão ecológica, ou seja, o processo natural de crescimento dos organismos em um ecossistema, que dão origem às diferentes interações entre eles”, explica.
Outro fator fundamental a se considerar quando falamos em recuperação de áreas naturais é a condição do banco de sementes, completa o pesquisador: “Se estiver destruído, vai demorar muito mais tempo”.
A primeira estratégia para mitigar os prejuízos das queimadas é fazer o diagnóstico e o acompanhamento das áreas queimadas para entender qual procedimento é o mais eficiente. Métodos de monitoramento remoto com o uso de VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado) e regeneração assistida, por exemplo, são técnicas que podem ajudar no processo de restauração.
Indicadores de biodiversidade
Analisar os aspectos físicos e geográficos de cada região e criar indicadores de biodiversidade são pontos fundamentais no processo de restauração florestal. “Com isso, conseguimos coletar informações sobre a diversidade biológica de uma área específica e medir o impacto das queimadas para tomar as medidas necessárias”, explica Marcelo.
O monitoramento é realizado por meio de análises de campo, como censos de espécies de animais ou levantamento de vegetação e ajuda a monitorar as áreas e os prejuízos das queimadas em cada bioma. Como forma de complementar esses estudos, amostragens de campo, imagens de satélite e o uso de tecnologias de sensoriamento remoto são algumas das ferramentas utilizadas para gerar informações e alimentar os indicadores.
Na Mata Atlântica, uma área de 100 hectares está sendo recuperada por meio de técnicas como essas, desde 2022. O Parque Nacional de Guaricana, na Serra do Mar paranaense, já recebeu mais de 14 mil mudas de 22 espécies nativas e conta com a atuação da comunidade indígena Tupã Nhe´é Kretã, por meio da Associação Indígena Guakaxe. O projeto foi coordenado pelo Lactec em parceria com o Fundo Brasileiro para Diversidade (Funbio) e tem apoio do NGI Curitiba ICMBio, FUNAI, IAT, COPEL e Sociedade Chauá.
No Brasil, esses indicadores já são utilizados para avaliar biomas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, fortemente atingidos pelas queimadas.
Biomas mais afetados
O maior aumento das queimadas em território brasileiro se deu no Cerrado, com 4.267 focos de fogo em setembro, o que corresponde a 50,1% do total registrado no país. Os dados são do Monitor do Fogo, do MapBiomas Brasil. Entre janeiro e agosto de 2024, o bioma já teve 4 milhões de hectares atingidos por queimadas, sendo 79% (ou 3,2 milhões de hectares) em áreas de vegetação nativa. O número representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período de 2023, quando 2,2 milhões de hectares foram atingidos.
Outro bioma fortemente afetado pelo fogo é o Pantanal. De janeiro até setembro, 338.675 hectares já foram queimados, uma área duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Os dados são do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec). A região devastada aumentou 19 vezes em 2024 quando comparada com o mesmo período do ano passado, quando foram afetados 17.050 hectares.
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia registrou o pior mês da história em áreas afetadas pelo fogo. Em agosto, o bioma registrou mais de 61 mil focos de incêndio, com 3.505.300 hectares consumidos pelas chamas, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da UFRJ. Essa é a maior área queimada da região desde 2012, quando iniciou o mapeamento do bioma.