sábado, 9 agosto, 2025
HomeColunas do MuralProsa gastronômica: O mar de preços salgados da Ilha do Mel

Prosa gastronômica: O mar de preços salgados da Ilha do Mel

Katia Michelle – Na última coluna, fui “acusada” de ter sido fúnebre por ter sugerido delícias curitibanas para se conhecer antes de uma possível (e não provável) hecatombe. Não vou me redimir. Vamos lá para algo sepulcral de verdade: os preços da paradisíaca Ilha do Mel, nossa Fernando de Noronha paranaense.

Em contraste com a paisagem estonteante, com a evocação nostálgica (“no meu tempo, a gente descia de trapiche molhando os pés na água”) e com o fervoroso Festival de Jazz, que está acontecendo por lá durante todo o mês de agosto, está uma pedra no sapato que impede uma caminhada saudável e sem preocupações: os preços quase abusivos de qualquer coisa para comer ou beber.

De uma garrafa de água a R$ 9, a uma cerveja long neck a R$ 15, a uma pequenina entrada de iscas de camarão por R$ 170 no “melhor restaurante de Encantadas”, a coisa vai ficando pesada ao longo do dia. Dá uma queimação no estômago ao aceitar uma casquinha de siri na mini (mínima mesmo) cumbuca por R$ 59 só por você estar em véspera de aniversário e achar que “merece”. Pior é esperar a suculência do siri, mas receber quase um suflê com crustáceo clandestino envolto na farinha.

Nesse mesmo restaurante, a moqueca individual sai a R$ 121, o prato dá o ar da graça servido numa cumbuca de barro, com o tempero suave e o molho dengoso sobre duas pequeninas fatias de peixe e algumas unidades de camarão, lula e marisco, deliciosamente temperadas. Foi a melhor experiência gastronômica por lá, mesmo que o vinho sugerido (e por descuido nosso) tenha sido doce.

De amargo, ficou a lembrança da noite anterior, quando decidimos comer um cachorro-quente em uma das trilhas que será melhor esquecer. Pelo preço e pelo sabor. O que vai ficar na memória é o primeiro final de semana do Encantadas Jazz com o som inconfundível de Glauco Solter e a bateria precisa de Gustavo Rocha. Com a companhia delícia, a experiência alimentou a alma e ficou na memória, mas bem que a Ilha poderia dar uma trégua nos precinhos de aluguéis e comida para deixar o festival mais acessível, né?

*Katia Michelle é jornalista formada em Comunicação Social e bacharel em Artes Cênicas. Trabalhou durante uma década na Folha de Londrina, passou pelo marketing de grandes empresas e foi editora na Gazeta do Povo. Aprendeu que comida é mais do que a junção de ingredientes e, desde então, vaga entre palavras e receitas, procurando o léxico, o sabor e o aroma perfeitos.

Leia Também

Leia Também