Ele foi o guru de uma geração. Articulista prolífico, polemista, dono de uma verve incomparável, Paulo Francis completaria, em setembro, 87 anos.
Há duas décadas, foi-se, fulminado por um ataque cardíaco. Suas aparições teatrais na TV Globo ganharam imitações em todo o Brasil. Até Chico Anísio o incorporou em um de seus personagens. Colunista da Folha de S. Paulo durante largos anos, enchia toda quinta e sábado duas páginas inteiras do caderno Ilustrada com o bodoque em punho. Ele não poupava ninguém.
Rapidamente, ganhou o status de campeão de audiência… e de odiência.
Em uma de suas polêmicas, encarou um embate duro com o primeiro ombudsman da Folha, Caio Túlio Costa. Ficou magoado, cuspiu fogo, bandeou-se para o concorrente, o Estadão.
PROCESSO DE 100 MILHÕES DE DÓLARES
No Manhattan Connection, da GNT, ocupou vaga que nunca foi preenchida. Ele era a alma do programa. Cantava, resmungava e atirava para todos os lados. Em 1996, um ano antes de morrer, desceu a borduna na Petrobras e jogou pesado. Acusou os diretores de ladrões, disse que eles mantinham contas secretas na Suíça e defendeu a privatização da companhia. “Nem um Rockfeller tem tanto poder”. Semanas depois anunciou que estava sendo processado em 100 milhões de dólares pelo presidente da Petrobras, Joel Rennó.
A TRANSCRIÇÃO DO DIÁLOGO
Lucas Mendes, âncora do Manhattan, transcreveu trecho da gravação:
Francis: “Os diretores da Petrobras todos põem o dinheiro lá… (Suíça) tem conta de 60 milhões de dólares…”
Lucas: “Olha que isso vai dar processo…”
Francis: “É… um amigo meu advogado almoçou com um banqueiro suíço e eles falaram que bom mesmo é brasileiro (…) que coloca 50 milhões de dólares e deixa lá”.
Lucas: “Os diretores da Petrobras têm 50 milhões de dólares?”
Francis: “Ahh! é claro… imaginem… roubam… superfaturamento…é a maior quadrilha que já existiu no Brasil”.
FHC LIGOU
De certa forma, Francis profetizou o petrolão. E talvez o eletrolão, o bndesão, porque empresa pública com diretoria indicada por partido político dá nisso. Quatro dias depois de queixar-se de dores no braço e afirmar que se tratava de uma bursite, Francis sofreu um infarto fulminante em sua casa. Sonia Nolasco, esposa do jornalista, atendeu poucos telefonemas naquela manhã. Num deles, ouviu a voz do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele passava um pito póstumo em Francis por não cuidar de sua saúde.
RELÍQUIAS IMPRESSAS
Há quem guarde as colunas de Paulo Francis publicadas em jornal como se fossem relíquias. Da mesma cepa do polemista só mesmo Nelson Rodrigues, outro que batia com as duas e corria para cabecear.