CMC – O primeiro vereador indígena do Brasil foi eleito no Paraná, em 1976, na cidade de Mangueirinha, na região sudoeste do estado, que faz divisa com Clevelândia e com Coronel Vivida. Foi nessa localidade que surgiu a liderança kaingang Ângelo Kretã, que, de 1976 a 1979, foi membro da Câmara Municipal de Mangueirinha. Liderou a retomada de terras indígenas e, no dia 29 de janeiro de 1980, aos 37 anos, morreu em uma colisão de automóveis.
O lamento dos indígenas de Mangueirinha pela sua morte foi registrado e relatado, na época, em uma edição especial do Globo Repórter. A reportagem relata, detalhadamente, o que ocorreu com o cacique no dia que sofreu o fatal acidente de carro. Autoridades policiais discordam da tese de crime político, mas, para os indígenas do Paraná, ele foi vítima de um atentado e, por isso, a data de sua morte virou símbolo e passou a ser celebrada como o Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas da Região Sul.
Na época, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) confirmou, em nota, que a morte do cacique Kretã “foi decorrência de um acidente de trânsito”. No entanto, o presidente da Funai, o coronel João Carlos Nobre da Veiga, em contradição à nota, afirmou, dias depois da colisão, que se vitimou a liderança kaingang, que “até que haja prova concreta, acredito que há intencionalidade por parte de pessoas interessadas em eliminar esses índios”.
Câmara homenageou Kretã
Visto como uma das mais importantes lideranças dos povos originários do Brasil, Kretã tornou-se um símbolo das lutas indígenas no Brasil. Em 2017, o prefeito Rafael Greca abriu, oficialmente, o seminário “Em Memória de Ângelo Kretã: Balanços e Perspectivas sobre a Questão Indígena no Sul do Brasil”, realizado na Gibiteca de Curitiba, no Solar do Barão, onde há uma sala denominada em homenagem a Kretã. Na ocasião, Greca destacou que a origem da capital do Paraná é de um território indígena.
“Se meninos e meninas indígenas guardarem as raízes da nossa terra no coração, mesmo que entrem na chamada ‘civilização branca’, eles podem ser o que quiserem, sem perder a sua memória. Eles permanecerão indígenas e, portanto, devem conservar a sua essência”, afirmou Greca há cinco anos. Na CMC, um projeto de lei homenageando a liderança kaingang, do ex-vereador Pedro Paulo, foi aprovado dez anos antes. O logradouro público escolhido em 2007 foi uma rua no bairro Sítio Cercado, cuja grafia definida à época foi Ângelo Cretã.