Nos dias em que estive em Roma notei a frequência com que os 20 anos de morte de Ayrton Senna eram mencionados na mídia e, em contato com alguns romanos – como o fez o guia de turismo e taxista Giampiero Mazzotta (que ele às vezes afrancesa ‘para Jean Pierre, facilitar o diálogo com cliente’, diz).
Mazzotta é um acaso à parte: durante o tempo em que estivemos juntos, no taxis dele, quando me levou ao Gueto Judaico de Roma, falou o tempo todo de sua paixão Ayrton Senna.
Tanta devoção tem ele pelo lendário piloto brasileiro que me garantiu: “Nunca mais pude ver corrida de automóvel, desde a morte de Ayrton”.
Em compensação fala com quase igual paixão sobre jogadores brasileiros do passado. E faz prognóstico: “O Brasil vai ganhar a Copa…”
No gueto judaico
No Gueto Judaico, no Setor Histórico de Roma, há, para mim, a confirmação de uma série de descrições feitas pelo autor do livro “Pio XII e os judeus”, um jornalista inglês que vai às minúcias históricas para recuperar os esforços empreendidos por aquele pontífice para salvar judeus durante o domínio italiano pelos nazistas.
Não me surpreendi com o livro. Pio XII e sua ação pró judeus, na II Guerra, na verdade estão sendo universalmente revistos, com enorme destaque à acolhida que conventos, congregações religiosas e mesmo o Vaticano dispensaram a judeus romanos. E assim salvando muitos deles da morte decretada por Hitler.
No Gueto está exposta em documentos e fotos a triste realidade do milhar e tantos de italianos de religião judaica que não escaparam: foram levados, como gado, para o matadouro de Hitler e executados na Alemanha.
Mas há especialmente no Gueto, na biblioteca, em salas de exposição, uma amostra ordenada de quanto aquela comunidade muitas vezes centenária foi contribuindo para o desenvolvimento de Roma, especialmente gerando uma massa crítica insubstituível, parte dela tragada pela sanha do Nazismo.
Ana, a brasileira
No penúltimo dia, resolvo ampliar meu diálogo com a brasileira Ana, 35, a simpática e eficientíssima recepcionista do Hotel Locanda Cairoli, em que me hospedei. Mineira de Belo Horizonte, ela se formou em Geografia e Defesa Ambiental em sua terra. Há 6 anos está no hotel. Rápida, muito educada, é poliglota: atende com facilidade, além de português e italiano, também em inglês e espanhol, sendo capaz de entender e dar respostas em francês.
Chegou à Itália falando inglês e um pouco de italiano. Não teve dificuldades em colocar-se profissionalmente, é um quadro diferenciado, enfeixando na recepção uma série de funções, inclusive de auditora de seu turno de trabalho. Faz o que no Brasil normalmente caberia a duas ou mais pessoas.
Não reclama, acha que está tudo muito bom, gosta de seu trabalho e se prepara para casar com italiano, sociólogo, em junho próximo. Parte da família irá à festa, com direito a Igreja, recepção.
Ana tem consciência de como é importante seu emprego e da necessidade de bem atender ao público: Mas lamenta: “As leis trabalhistas italianas acabam apoiando o profissional leniente”, diz. E explica: “Aqui o empregado só pode ser mandado embora do emprego mediante justa causa. E esta tem de ser muito bem justificada”, explica.
Para resumir: “É quase impossível demitir o mau empregado”.
(aguardem as próximas postagens)