terça-feira, 29 abril, 2025
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Polônia pouco sabe do “Paraná Polaco”

Zygmunt Chelmicki, autor; Sofia Dyminski: tradutora; Luiz Gonzaga Paul: revisão
Zygmunt Chelmicki, autor; Sofia Dyminski: tradutora; Luiz Gonzaga Paul: revisão

A propósito da recente nota desta coluna, com declarações de Luiz Fernando de Queiroz segundo as quais, na Polônia de hoje, a ligação do Paraná com a imigração polonesa é “quase desconhecida”, lembro que em 2010 fui um dos “abençoados”, por poder comprar em Curitiba um livro hoje raro: “Imigrantes Poloneses no Brasil – 1891”, obra editada pela Editora do Senado, e que esteve à venda na Bienal do Livro de Curitiba, realizada na então existente área de exposições do Estação Shopping.

SOFIA DYMINSKI

O livro foi escrito pelo padre polonês Zygmunt Chelmicki e traduzido por Sofia Winklewski Dyminski (in memoriam), umas das mais importantes pintoras do Paraná, nascida na Polônia em 1918, naturalizada brasileira e que morou em Curitiba desde 1950. A obra, importante para a avaliação de tempos de pioneiros, foi revisada pelo professor Luiz Gonzaga Paul, cuja esposa, Halina, é sobrinha de Sofia Dyminski.

VIDA MISERÁVEL

Em visita aos imigrantes conterrâneos no Brasil de 1891, Chelmicki, também jornalista, relata a vida miserável nos primeiros 17 meses, após a proclamação da República.

Um dos objetivos da reportagem para o jornal Slowo (“Palavra”), de Varsóvia, visava uma campanha de esclarecimento do povo polonês sobre a realidade da vida do imigrante no Brasil, para opor-se à febre brasileira, que grassava na Polônia de então.

DIÁRIO DE BORDO

Chelmicki descreve, num minucioso “diário de bordo”, a travessia, em navio, Lisboa-Rio de Janeiro, durante 15 dias, e as condições dos que vinham em busca de novas terras. Identifica no movimento imigratório para o Brasil um recurso para repor a mão de obra escrava pós-abolição e aponta falhas na forma de arregimentação de imigrantes e os lucros por ela auferidos pelos agentes brasileiros.

NOSSAS COLONIAS

No Paraná, dá conta detalhadamente sobre as colônias em Curitiba, Botiatuvinha, Tomás Coelho e Murici, pormenorizando custos e reporta violências policiais contra poloneses, quase resultantes em massacre.

FEBRE AMARELA

Ao retornar ao Rio de Janeiro, demonstra ainda seu horror à febre amarela e publica n’O Jornal do Comércio (6 jun. 1891, n.º 156) uma carta aberta, dando claramente conta de sua missão, objeto de réplica do Barão de Taunay, ex-governador do Paraná. Ao final, o autor resume suas impressões sobre os fatores das desventuras dos imigrantes poloneses no Brasil, perguntando: “Que jeito tem a felicidade brasileira?”

A tradução vem enriquecida com mais de 200 notas de esclarecimento para o leitor atual, inclusive sobre valores monetários da época, abundantes na obra.

Primeiros poloneses no Paraná
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