sexta-feira, 18 julho, 2025
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PARA PROCURADORES, “CARTEIRA ASSINADA” DIZ QUEM É JORNALISTA

Jerusa Burmann Viecilli e Athayde Ribeiro Costa: procuradores
Jerusa Burmann Viecilli e Athayde Ribeiro Costa: procuradores

Os procuradores da República Jerusa Burmann Viecilli e Athayde Ribeiro Costa, da “Lava Jato”, em Curitiba, perderam a chance de reconhecer o óbvio, no despacho que deram dia 23, quarta-feira. Nele desconheceram que o jornalista curitibano Francisco José de Abreu Duarte estava exercendo atividade jornalística ao passar informações para o blogueiro Cairo Guimarães, de São Paulo, em episódio sobre a condução coercitiva de Lula ocorrida em 2016.

O começo dessa história virou mais uma das tantas pantomimas com que certa mídia – exemplo típico é o Jornal Nacional – costuma estigmatizar meros citados em operações do MPF ou Polícia Federal.

Dessa forma, a mídia só amplia um cortejo acrítico apriorístico, que manda à danação indiscriminada, homens e mulheres, muitos deles meridianamente cidadãos de bem.

A ESCOLHA DE FRANCISCO

Este é o caso de Francisco José de Abreu Duarte, jornalista de alto padrão, com história de vida, o que significa muito mais do que ser dono de bom currículo.

Francisco, esclareça-se, no entanto, tem currículo de qualidade e história de vida exemplar.

O pecado de Francisco seria o de ser um homem à “gauche”, numa sociedade hipnotizada por uma direita barata, antidemocrática e anticristã? Pode ser.

TENHO AUTORIDADE

Francisco José de Abreu Duarte, jornalista profissional universitário
Francisco José de Abreu Duarte, jornalista profissional universitário

Eu tenho autoridade para esse tipo de indagação: sou notoriamente alguém de centro-direita. Tenho história, ao mesmo tempo, de homem libertário.

Sou doentiamente contra a prepotência, especialmente a do Estado, como a encarnada hoje por parte do MPF e PF, mentalidade arbitrária que não vi nem mesmo no chamado período ditatorial inaugurado em 1964.

TEM HISTÓRIA

Francisco é profissional que, desde que se formou na PUCPR, em 1980, até hoje, nunca deixou de exercer a profissão escolhida. Uma profissão sem o “brilho” e a capacidade de mesmerizar o país que têm os nossos “intocáveis” do MPF. Ele pratica uma profissão destituída de penduricalhos salariais (auxílio moradia, auxílio creche…) e altas remunerações como o que conta o MPF, nem tem a blindagem dessas “otôridades”.

ESPAÇO DE PURGAÇÃO

Não fujo do tema: o “sheol”, aquele espaço de purgação bíblica, é o caminho certo reservado indistintamente aos colhidos pela chamada Lava Jato.

Lamento por todos eles, e nisso até concordo com o “trêfego” (assim chamado por procuradores da República) ministro Gilmar Mendes: o Brasil de hoje sugere que nem o judiciário ficou imune à maviosidade do MPF e procuradores “conferencistas”, astros de novos shows, que buscam condenações a qualquer custo.

CONDENAR É PRECISO

Nisso, a condenação, eles contam com a “cumplicidade” de um povo de “anawins”, pobres absolutos, acríticos, a maioria da Nação, que, enfim, estaria diante de super-heróis… São seus heróis e vingadores de perdas nascidas em 1500 e perpetuadas até hoje.

Carlos Eduardo Cairo Guimarães, blogueiro
Carlos Eduardo Cairo Guimarães, blogueiro

IGNORÂNCIA AMPLA

Dizer que Francisco não estaria exercendo a profissão de jornalista, no episódio citado – e por isso não estaria coberto pelo direito constitucional de preservar suas fontes de informação – é injusto.

Para não dizer que assim revelam os procuradores desconhecer ampla e irredutivelmente os mecanismos que regem esta profissão da qual vivo desde 1960. Ininterruptamente, até agora.

Basta ler com atenção o que eles “sacramentam” na petição ao Juiz da 23 Vara Federal de Curitiba sobre Francisco José de Abreu Duarte: dizem que o cidadão não estaria usando as suas prerrogativas profissionais porque “seu último registro em Carteira do Trabalho data de 2015”!

FALTA CARTEIRA ASSINADA…

Pode? Tal barbaridade é pecado sem perdão.

Então, o profissional jornalista tem sua vida, seu ideal, sua missão, seus direitos constitucionais assegurados só se tiver Carteira assinada?

Está perdido, daqui para frente, com as mudanças da CLT?

A barbaridade da “Carteira assinada” desconhece os trabalhos de “free lancers” jornalistas que hoje fazem a maioria dos meios de comunicação no país e no mundo. Desconhece também que os mais importantes espaços de jornais e revistas são cobertos por meros colaboradores, alguns assinando pelo trabalho, outros não.

ATÉ UM PROCURADOR ME AJUDA

Francisco sempre foi colaborador deste espaço, assim como o ajudei nos primeiros passos da profissão em 1980, depois de ter sido meu aluno na PUCPR, e de ter trabalhado comigo em 3 jornais de Curitiba.

Sempre acatei a colaboração de Francisco, como faço com outros colaboradores (um deles, membro do MPF, outro, um juiz federal, é verdade), sem registrar seus nomes. Valho-me do meu direito constitucional, como Francisco o faz, negando-se a citar suas fontes.

VOCÊ SABE LER A NOTÍCIA?

No caso de Francisco, sua colaboração a esta coluna foi preciosíssima: ele atuou por dezenas de anos numa empresa produtora de notícias para a imprensa e análise de um vasto material diário registrado pelos meios de comunicação social do País. É um jornalista que sabe fazer a exegese, digamos assim, do fato noticiado. Tarefa hoje em dia pouco valorizada.

TRABALHO MENOR

Mas os procuradores tratam o trabalho de análise da notícias e opiniões que Francisco lá exercia como um ‘trabalho menor’.

Digo o contrário: esse trabalho é dos mais exigentes, a partir dos Cursos de Comunicação, senhores procuradores.

BLOGUEIRO PODE

Por último, mas não menos importante: os procuradores tratam o blogueiro do episódio – Claro Eduardo Cairo Guimarães – como jornalista. Não sei se ele é jornalista.

Trata-se de título que, a bem da verdade, não pode caber a qualquer blogueiro. Isso seria assunto para outro dia.

“PLEONEXIA” CONDENATÓRIA

Francisco, sim, é jornalista.

Mas não para o MPF da Lava Jato de Curitiba, nas pessoas dos doutores Jerusa e Athayde, que assumem à plenitude aquilo que os gregos qualificavam de ‘pleonexia’, a avidez, que toma muitas e enormes formas.

No caso do MPF da Lava Jato, temos ‘pleonexia’ condenatória, que parece exercer poder catártico a demandar análise de esferas diversas.

Talvez até de universos psicológicos; no mínimo, de uma atmosfera jungiana.

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