Por Antenor Demeterco Junior

A biografia de Tancredo Neves, escrita por seu assessor de imprensa, José Augusto Ribeiro, o posicionem diversos momentos históricos, e conduz o leitor a uma conclusão inarredável: Tancredo é um dos grandes estadistas brasileiros.
A conciliação como verdadeira bandeira política de Tancredo, privou o Brasil de episódios armados.
Aceitou ser, provisoriamente, primeiro ministro do parlamentarismo impeditivo de amplos poderes para João Goulart, que, posteriormente, em sua presidência militou em direção à instabilidade política do Brasil.
Instalado o governo militar, foi o grande opositor do mesmo, afastando-se dos radicais que investiam no confronto para a sua derrubada.
A incompreensão de alguns chegou a rotulá-lo como “cúmplice da ditadura” (cf. “Tancredo Neves. A Noite do Destino”, p.400).
Compreendeu o projeto de abertura política governamental e acabou inserindo-se no mesmo, obtendo sua eleição presidencial indireta, o que deflagrou o retorno da democracia no país.
Ulysses Guimarães, temeroso de perder seu exponencial papel político, comparou o presidente Geisel ao folclórico e assassino ditador africano Idi Amin, e com isto tentou sabotar os planos liberalizantes do primeiro.
Acabou confessando que “alguns uísques” foram culpados pela diatribe (cf.ibidemp.352).
O quadro econômico, já no governo do Presidente Figueiredo, foi por Tancredo pintado em termos realísticos, que não fazem inveja aos tempos atuais:
“O desemprego já não é uma ameaça, mas uma presença terrível em todos os lares de nossa pátria. Desativam-se as empresas. Aumentam os números de falências e concordatas. O clima de estagnação e do desânimo envolve o país. Caem os níveis de produção na indústria e na agropecuária. O comércio se estiola. A renda per capita se reduz de ano a ano de forma alarmante e, com consequência, torna-se negativo pelo terceiro ano consecutivo o crescimento do nosso Produto Interno Bruto” (ibidem p. 409).
A “noite do destino” não foi gratificante para os dois principais líderes do oposicionismo ao governo militar.
Ulysses, candidato à Presidência da República em eleição direta, recebeu menos votos que o barbudo Enéas, segundo lembro vagamente.
O Sr. Diretas não foi levado a sério nas diretas.
A implacabilidade do destino atingiu ambos.
Eleito indiretamente, Tancredo sucumbiu à doença, e não assumiu o cargo.
Subiu a rampa do Palácio do Planalto em esquife.
A Ulysses sequer foi resguardada esta honra, seu corpo desapareceu no mar.
E o poder caiu nas mãos de um político amigo de todos os governos.
Iniciou-se a democracia brasileira, assim, com duas grandes ausências, na sequência de um féretro, acompanhado em pessoa pelo ex-presidente Geisel.
Conduziu este um processo que levou o Brasil a bons termos, mas que não contou com o imprevisível, como não poderia deixar de ser.
A noite não foi do destino, pelo menos para Tancredo de Almeida Neves, mas sim do repouso do guerreiro.
Ele costumava dizer: “Para descansar, teremos toda a eternidade”.
E com ele morreram grandes esperanças.
ANTENOR DEMETERCO JR., desembargador aposentado do TJPR