Por Antenor Demeterco Junior
“O rio Mississipi irriga e serve a “imensa bacia de fertilidade” que constitui o coração do continente do norte. O Amazonas estende os dedos compridos por “uma região singularmente hostil à atividade humana”.
Na América do Norte o clima permitiu que “a vida urbana se desenvolvesse nas planícies”, em natural intimidade com o “hinterland”.
Na América do Sul, o clima unido à “tradição castelhana”, situou várias das comunidades urbanas mais importantes em lugares montanhosos, pouco acessíveis, ao preço de uma trágica e inextirpável artificialidade.
O relatório descreve os efeitos “trágicos” do modo como os espanhóis haviam introduzido sua civilização e governo no continente sul-americano, assim como “as consequências da importação de escravos da África”.
A sombra de um “terrível desamparo e impotência” cai “hoje” (em 1950) sobre a maior parte do mundo latino-americano.
As dificuldades para evoluir estão escritas no sangue humano (Kennan racista?) e nos traçados da geografia, e não são facilmente passíveis de eliminação.
Kennan mostrou-se temeroso com o sul da Califórnia, que poderia ser objeto de “latinização” de sua vida política.
Tal região é hoje uma das mais prósperas dos Estados Unidos, é preciso que se constate.
E com a democracia na América Latina, um tipo romântico de democratismo garibaldino, fundado na interação de uma população emotiva, a seguir um motivado líder de perfil heroico.
O relatório Kennan é de um pessimismo extremista, mas conclui, surpreendentemente, considerando a civilização latino-americana como “a melhor esperança da humanidade para o futuro”.
Confesso, como simples leitor, que o relatório Kennan merece ser conhecido, mas não seguido, pois, o mundo mudou, e também a América Latina.
O Brasil tem instituições diferenciadas, e está voltado para o Atlântico, para África e para a Europa.
É um grande país que no passado militou, inclusive, belicamente em defesa das liberdades políticas e econômicas do mundo.