sexta-feira, 6 junho, 2025
HomeMemorialOpinião de Valor: Os benefícios do pinhão na merenda escolar

Opinião de Valor: Os benefícios do pinhão na merenda escolar

Por Eloi Zanetti

Como ambientalista, preocupado com a conservação dos pinheirais ainda restantes no Paraná, sempre pensei em pesquisar alternativas econômicas que pudessem interessar ao pequeno agricultor na venda da safra de pinhão. Uma das ideias foi que nas regiões onde existe abundância de colheita, o pinhão poderia ser vendido diretamente às prefeituras/escolas para suplementar a merenda. Dessa forma, o catador poderia vender a safra de uma só vez e a preço justo. Ação que facilitaria seu trabalho e manteria o interesse em deixar a árvore em pé, pois todos os anos teria uma renda extra garantida. Na época em que apresentei essa ideia, o quilo era vendido a míseros R$1,00 nas estradas.

Como participante de várias ONGs ambientais não consegui fazer meus pares se interessarem pela ideia. Tentei por conta própria e recebi de um prefeito o seguinte conselho: “Eloi, deixa isso pra lá, a merenda escolar, em muitas cidades, se faz com acordos escusos – você não vai vencer esta barreira.” Desisti e fui tocar a minha vida. 

MINAS SAI NA FRENTE DO PARANÁ

Nessa quarta-feira (23/06) fiquei sabendo que a prefeitura de Delfin Moreira-MG iniciou a introdução do pinhão na merenda escolar do município e ele começou a ser servido aos alunos na forma de farofa, com batata doce assada ou strogonoff de frango com farinha de pinhão. Para que a fruta fique mais atrativa aos alunos, as merendeiras escolares participaram do Curso Pinhão na Gastronomia ministrado pela curitibana e chef de cozinha Helena de Meneses, uma batalhadora pela causa e que mantém uma página no facebook sobre o assunto – Araucárias – Pinhão do Brasil.

QUEM SABE FAZ A HORA

 A Secretaria de Agricultura Pecuária e Meio Ambiente do município, por meio da titular da pasta, Joelma Rabelo de Pádua, com o apoio do prefeito, Edilberto Marques da Cruz – um entusiasta dos pinheirais da sua região, Sul de Minas -, e com a parceria com a Secretaria de Educação levaram a ideia a frente. Joelma, que defendeu sua tese de doutorado em Engenharia Florestal sobre a Conservação Genética da Araucária viu a grande oportunidade em preservar os remanescentes das florestas locais. Para dar inicio ao projeto, convidou o professor Flávio Zanette para ministrar um curso sobre o tema. Para sua surpresa, o curso lotou a sala de agricultores e autoridades – a vontade política e econômica foi criada. Em seguida, convidou a especialista Helena Menezes para ensinar as merendeiras das escolas e as pessoas interessadas no assunto.

PINHÃO IDEAL PARA A MERENDA ESCOLAR

Do ponto de vista nutricional o pinhão é um alimento rico em calorias. Por ser também rico em fibras, é usado para ajudar no porte calórico dos trabalhadores, atletas, crianças e adolescentes em fase de crescimento. Seu consumo pode trazer diversos benefícios à saúde, como prevenir doenças intestinais. O pinhão é composto por vários minerais, como cobre, zinco, manganês, ferro, magnésio, cálcio, fósforo, enxofre e sódio. Porém, merece destaque no fornecimento de potássio que ajuda a controlar a pressão arterial.

Ainda no pinhão, são encontrados os ácidos graxos linoleico (ômega 6) e oleico (ômega 9). Estes contribuem para a redução do colesterol no sangue, por isso, podem ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares.

OCUPAÇÃO DE PR E SC

Na ocupação dos territórios do Paraná e Santa Catarina era costume dos agricultores, na época em que caiam os pinhões, marcar seus animais com um sinal, principalmente os porcos, e soltá-los no meio dos sub-bosques de araucárias para promover a engorda. Tão ricos em nutrientes são os pinhões que, findo o período da safra, cada agricultor recolhia seus animais já prontos para o abate. Assim nasceram as cidades de Faxinal, Faxinal dos Guedes, a vila de Faxinal do Céu e muitas outras. O modelo comunitário “faxinal” está merecendo estudos de alguns acadêmicos ainda hoje. 

A expedição Cabeza de Vaca que cruzou o Paraná rumo a Assumpção em 1541 encontrou enorme dificuldade em atravessar os pinheirais que encontraram pelo caminho – “tal era a quantidade de árvores que a luz do Sol não chegava ao chão e criava atoleiros e dificultava o passo dos cavalos”.  Por várias vezes os expedicionários foram salvos da fome pelos nativos que lhes ofereciam comida, principalmente mandioca, milho, mel, carne de anta e… pinhão.

Eloi Zanetti é publicitário, homem do marketing e escritor

Leia Também

Leia Também