Após manifestantes gritando “Voltem para Casa” terem feito voltarem ônibus cheios de mães e crianças imigrantes em Murrieta, Califórnia, um furioso cardeal Timothy M. Dolan, o arcebispo católico romano de Nova York, escreveu um post em seu blog detalhando a vergonha do episódio, escrevendo, “foi antiamericano, foi antibíblico, foi inumano”.
A reportagem é de Michael Paulson, publicada pelo jornal New York Times e reproduzido pelo portal UOL:
Quando o governador de Iowa, Terry Branstad, disse que não queria imigrantes em seu Estado, declarando, “nós não podemos aceitar toda criança do mundo que tem problemas”, o clero em Des Moines realizou uma vigília de oração na Igreja Metodista Unida, para demonstrar seu desejo de abrir espaço para os refugiados.
A resposta dos Estados Unidos à chegada de dezenas de milhares de crianças imigrantes, muitas delas fugindo da violência e exploração na América Central, é simbolizada pela reação furiosa de cidadãos e autoridades locais, que canalizaram seu ultraje com a imigração ilegal em oposição aos abrigos propostos. Mas por todo o país, uma série de líderes religiosos está tentando mobilizar apoio às crianças, dizendo que o país pode e deve recebê-las.
COMPAIXÃO, LEMBRA RABINO
“Nós estamos falando sobre se ficaremos na fronteira, dizendo para crianças que estão fugindo de um prédio em chamas para voltarem para dentro”, disse o rabino Asher Knight, do Templo Emanu-El, em Dallas, que disse que os líderes de mais de 100 organizações religiosas em sua cidade se reuniram na semana passada para discutir como ajudar. Ele disse que em sua própria congregação, alguns comparam o fluxo de crianças imigrantes ao “Kindertransport”, uma missão de resgate no final dos anos 30 que enviava crianças judias da Alemanha nazista para o Reino Unido para proteção.
“A questão para nós é: como queremos ser lembrados, como gritando para voltarem para casa, ou como tendo usado os ensinamentos de nossas tradições para ter compaixão, amor e graça pelas vidas dos filhos de Deus”, disse Knight.
COALIZÃO EVANGÉLICA
Uma coalizão de organizações evangélicas enviou uma carta aos membros do Congresso, se opondo às propostas de deportação acelerada dos imigrantes.
Uma carta semelhante está sendo preparada por um grande número das principais denominações, incluindo a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo), Igreja Episcopal, Igreja Evangélica Luterana da América, Igreja Presbiteriana (EUA), Associação Unitária Universalista e a Igreja Unida de Cristo.
A Igreja Católica também se opõe a qualquer esforço para facilitar a deportação de crianças; na semana passada, o arcebispo de Chicago, o cardeal Francis E. George, disse que ofereceu as instalações de sua diocese para abrigar algumas das crianças, e, na segunda-feira, os bispos de Dallas e Fort Worth pediram que advogados se apresentassem como voluntários para representar as crianças nos procedimentos de imigração.
“Nós temos que agir de acordo com o que pregamos neste país”, disse Kevin Appleby, o diretor de política de migração da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos. “Nós dizemos aos outros países para protegerem os direitos humanos e aceitarem refugiados, mas quando temos uma crise em nossa fronteira, nós não sabemos como responder.”
“CONVERSA DE ÓDIO”
O padre Larry Snyder, presidente das Caridades Católicas dos Estados Unidos da América, disse que o trabalho de caridade não é bem-vindo em todas as comunidades.
“Algumas autoridades municipais estão intimidadas por toda a conversa de ódio que ouvem, e conversei com alguns pastores que disseram que precisam ser cuidadosos, por não contarem com o apoio de seus paroquianos”, disse Snyder. “Se Jesus disse algo, é que todo mundo é seu próximo. Eu gostaria que as pessoas abraçassem isso um pouco mais do que fazem.”
Alguns líderes políticos citaram argumentos religiosos e morais para oferecer apoio aos imigrantes. Na última sexta-feira, o governador de Massachusetts, Deval Patrick, citou com os olhos cheios de lágrimas a Bíblia e declarou: “Eu não sei de que vale a fé se não pudermos recorrer a ela em momentos de necessidade humana”, enquanto sugeria que as crianças imigrantes poderiam ser temporariamente abrigadas nas bases militares de seu Estado.
E na segunda-feira, ao falar com os repórteres após se encontrar com uma importante autoridade do Vaticano, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, elogiou o apoio do papa Francisco às crianças imigrantes, e disse:
“Eu enfatizo que a cidade de Nova York concorda com a posição da Santa Sé, que temos que receber todos os imigrantes.