Por André Nunes, com informações da newsletter Meio
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à frente na contagem de votos do primeiro turno das eleições, mas o grande vitorioso foi o bolsonarismo. Por outro lado, as pesquisas eleitorais despontaram como as maiores derrotadas do pleito, por subestimarem em muito o tamanho real do presidente.
Com a apuração em 99,99%, Lula obteve 48,43% dos votos e vai para o segundo turno no dia 30 de novembro contra Jair Bolsonaro (PL), que chegou a 43,20%.
A votação de Lula ficou dentro da margem de erro das pesquisas, mas elas não anteviram a performance do presidente. O Datafolha previa que Bolsonaro chegaria a 36%, dos votos válidos; no Ipec, eram 37%; no Ipespe, 35%. O desempenho será fruto de analistas por um bom tempo, sem dúvidas…
Em uma eleição que registrou um boom no número de pesquisas em relação às anteriores, nem mesmo os institutos mais tradicionais como o Datafolha conseguiram se aproximar do resultado das urnas neste 1º turno. Como esperarado, em sua primeira declaração após o primeiro turno, Bolsonaro chamou as pesquisas de mentirosas. “Desmoralizou de vez os institutos”, disse o presidente. Por outro lado, a tão debatida segurança das urnas eletrônicas não foi contestada por Bolsonaro até o momento.
EX-MINISTROS NO SENADO
E não foi só isso: candidatos bolsonaristas, especialmente ex-ministros, tiveram desempenhos inesperados em praticamente todas as esferas de governo. Dessa forma, foram eleitos senadores Damares Alves (REPU) no Distrito Federal; General Mourão (REPU), pelo Rio Grande do Sul; Astronauta Marcos Pontes (PL), em São Paulo; Tereza Cristina (PP), no Mato Grosso do Sul; e Rogério Marinho (PL), no Rio Grande do Norte.
No total, o PL de Bolsonaro conquistou 8 vagas no Senado, ampliando muito sua presença pelos próximos 8 anos. Será a maior bancada da Casa. PSD (12 senadores), MDB (10), União Brasil (10) e PT (9) completam lista de maiores bancadas.
Falando em ex-ministros, Sergio Moro (UNIAO) também surpreendeu e levou a vaga ao Senado pelo Paraná, tirando o favoritismo do veterano Alvaro Dias (PODE) e passando à frente do bolsonarista Paulo Martins (PL). Mais uma vez, as pesquisas não apontaram a arrancada que Moro teve rumo à vitória.

TERCEIRO LUGAR
As urnas mostraram também uma inversão no segundo pelotão. Simone Tebet (MDB) chegou em terceiro lugar, com 4,16%, enquanto Ciro Gomes (PDT) amargou 3,05%. O ex-ministro só ficou à frente da senadora no Ceará, seu reduto eleitoral, onde obteve 6,80%, contra 1,22% de Tebet.
Terceira colocada nas eleições presidenciais, Simone Tebet discursou dizendo que vai aguardar o posicionamento dos presidentes dos partidos que a apoiam (MDB, Podemos e a federação PSDB/Cidadania) para manifestar sua posição no segundo turno. Entretanto, afirmou que sua decisão está tomada. “Só não esperem de mim — eu que tenho uma trajetória de vida de luta pelo país, neste país que tanto precisa de nós — omissão. Tomem logo a decisão, porque a minha está tomada. Eu tenho lado e vou me pronunciar no momento certo. Só espero que vocês entendam que esse não é qualquer momento do Brasil”, cobrou a senadora. Ela deu um prazo de 48 horas para as legendas.
Ciro Gomes, por sua vez, disse que “nunca viu situação tão complexa” e afirmou ser necessário “falar com o partido” para “acharmos o melhor caminho para servir a nação brasileira”. Na véspera da votação, ele descartou qualquer possibilidade de apoiar o PT no segundo turno.
Segundo Mônica Bergamo, da Folha, o PT pretende intensificar as negociações com o MDB não apenas pelo apoio no segundo turno, mas por uma coalizão no governo, com Simone Tebet ocupando um ministério. Como foi eleita em 2014, ela estará sem mandato no ano que vem, e uma cadeira na Esplanada manteria sua visibilidade.

DISCURSOS
Logo após se tornar matematicamente claro o resultado, Lula fez um discurso em um hotel na região central de São Paulo, onde havia acompanhado a apuração. Procurando animar a militância, que esperava comemorar a vitória no primeiro turno, ele classificou a segunda rodada como “apenas uma prorrogação”. “Vai ser a primeira chance da gente fazer um debate com o presidente da República para saber se ele vai continuar contando mentiras”, disse. “Eu acho que é uma chance que o povo brasileiro me dá”, complementou.
Já Bolsonaro adotou um tom moderado e não questionou o resultado. Pelo contrário, disse que os números mostravam um “desejo de mudar” por parte da população. “Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior”, afirmou, ressaltando que o segundo turno é disputado em igualdade de condições.
