Por Gerson Guelmann / HOJEPR – Conta-se que há cerca de 250 anos o Papa decidiu que todos os judeus tinham que deixar Roma. Houve uma grande comoção na comunidade judaica e os líderes decidiram conversar com o Papa.
Na audiência o Papa propôs um acordo: ele faria um debate religioso com um membro da comunidade. Se o judeu ganhasse, todos poderiam ficar. Se ele ganhasse, os judeus sairiam de Roma.
Sem outra alternativa e sem conseguir identificar um patrício que fosse considerado um debatedor à altura do Papa, os judeus, já achando que a expulsão seria inevitável, escolheram um homem chamado Moiche para representá-los.
Ele aceitou a incumbência, mas pediu que propusessem ao Papa uma condição: para tornar o debate mais interessante, nenhum dos lados poderia falar. O Papa concordou.
No dia acertado, Moiche e o Papa sentaram-se um em frente do outro por um minuto antes de o Papa erguer a mão e mostrar três dedos. Moiche olhou para ele e levantou um dedo.
Em seguida o Papa balançou a mão em direção às paredes e após isso apontou para Moiche, que em resposta indicou o chão onde ambos estavam sentados.
Depois o Papa pegou uma hóstia e a colocou na boca, após o que bebeu um gole de vinho; Moiche tirou uma maçã de uma pequena sacola e a comeu.
Neste instante o Papa levantou-se e disse:
– Desisto, este homem é sábio demais. Os judeus podem ficar.
Logo em seguida os cardeais cercaram o Papa perguntando o que tinha acontecido.
O Papa explicou:
– Primeiro eu levantei três dedos para representar a Santíssima Trindade e ele respondeu mostrando um dedo para me lembrar que há um D-us comum a ambas as religiões. Então eu mostrei tudo o que havia em volta de nós e apontei para ele mostrando que D-us nos observa o tempo todo; ele respondeu apontando para o chão, lembrando que D-us estava bem aqui, próximo a nós. Aí eu usei a hóstia e o vinho para mostrar que pela comunhão D-us absolve nossos pecados e ele comeu uma maçã para me lembrar que o Pecado Original é um dogma Católico! O que mais eu poderia fazer? Esse homem tinha resposta para tudo o que eu propunha!
Enquanto isso, a comunidade judaica se aglomerava ao redor de Moiche, festejando o resultado conseguido.
Foi então que um homem perguntou:
– O que aconteceu?
Moiche explicou:
– Bem, primeiro ele me disse que os judeus tinham três dias para deixar Roma e eu respondi que nem mesmo um único judeu iria embora.
E continuou explicando, sempre repetindo os gestos feitos pelo Papa:
– Então ele disse que toda a cidade seria limpa dos judeus, a começar por mim. Insisti que ninguém iria me tirar daqui.
Aí foi a vez de uma mulher perguntar:
– E depois, o que houve?
E Moiche disse:
– Não sei. Ele comeu o almoço dele e eu comi o meu.
GERSON GUELMANN é responsável pelo maior acervo de Humor Judaico em português do Brasil. Diariamente brinda seus leitores com textos inteligentes, saborosos, bem humorados (mas também sérios) no seu Blog do Guelmann.