segunda-feira, 23 junho, 2025
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O DIA EM QUE A NAU DO DESCOBRIMENTO FOI A PIQUE

Figura da Nau Capitania com Rafael Valdomiro Greca de Macedo: ministro do fiasco, e Fernando Henrique Cardoso: presidente
Figura da Nau Capitania com Rafael Valdomiro Greca de Macedo: ministro do fiasco, e Fernando Henrique Cardoso: presidente

Há 517 anos o Brasil se esquece de seu próprio descobrimento, em 22 de abril. Comemora-se a Inconfidência Mineira na véspera, um feriado nacional, mas nunca o dia em que aportamos nessa terra. A última vez em que se ensaiou uma festa, no ano de 2000, quando do meio milênio da descoberta, o vexame roubou a cena. Os índios foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo em Porto Seguro, os convidados ilustres tiveram que arredar pé da cerimônia, os sem-terra engrossaram o protesto e a réplica da Nau Capitânia naufragou antes mesmo de chegar ao seu destino, em Porto Alegre. Se hoje Cabral tivesse que descobrir o Brasil, não descobriria.

SEM DESTINO

O custo da empreitada foi de R$ 500 mil (corrija-se esse dinheiro para valores de hoje…). Não se sabe o destino da nau. Se navegou ou não. Se chegou ao porto ou não. O comentário do senador Roberto Requião, então, foi venenoso. “O problema é a nau”.

SILÊNCIO OBSEQUIOSO

Era presidente o tucano Fernando Henrique Cardoso. Era ministro do Turismo, Rafael Valdomiro Greca de Macedo, cujo gabinete pintado em verde-amarelo provocara um frisson entre os nacionalistas mais ortodoxos. As gafes e as trapalhadas do episódio dos 500 anos do Descobrimento provocaram a demissão de Greca de Macedo. Os índios pintaram o rosto em sinal de guerra e os sem-terra foram invadir outras paragens. Acabou tão mal que o dia 22 de abril é chamado informalmente de Dia do Silêncio Obsequioso. E é melhor Greca não arriscar.

A Nau Capitânea hoje, no Museu da Marinha, Rio de Janeiro
A Nau Capitânea hoje, no Museu da Marinha, Rio de Janeiro
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