
Qualquer livro didático pode confirmar que o Brasil é uma grande área verde com um quê de civilização em sua margem oriental. Há grandes áreas de mata virgem, inexploradas até mesmo por ornitólogos e entomologistas, e uma pressão internacional concorrendo para que a floresta fique exatamente como está. Bela, incólume, pulmão do planeta.
400 MILHÕES DE ANOS
Tudo isso, no entanto, não justifica o projeto em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná de reduzir em 70% a escarpa devoniana de 400 milhões de anos dos Campos Gerais. Demonizar o agronegócio seria o caminho mais fácil – há inclusive uma pesquisa encomendada por produtores – mas não se trata disso. O discurso tem outros interesses.
Alguns deles da mais cristalina ignorância, se é que assim se pode elogiar alguns dos deputados. Ignorar significa desconhecer. E eles desconhecem. Alguns deles, quem sabe criacionistas, acham que o mundo foi criado há 6 mil anos.
CONVERSA PARA BOI DORMIR
É compreensível, portanto, que eles saibam pouco desse grande paredão rochoso de 260 quilômetros de extensão que fazia parte do litoral paranaense há impensáveis 4 milhões de séculos ou 4 mil milênios.
Reduzir em 2/3 uma área por si só grandiosa sob a alegação de que a lavoura de soja precisa se expandir ou que o gado leiteiro precisa pastar é conversa para boi dormir. O próprio governo que defendia o projeto, no início, através de seu líder, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), já começa a abandonar a ideia. Não por temer reações, mas por concluir que se trata de matéria que pouco interessa ao estado. Só a sedimentação milenar da escarpa já justifica qualquer preservação.
O ANIMAL DE ARISTÓTELES
Há sob suas colunas rochosas, se algum paleontólogo se puser a descobrir, marcas incontestes da existência de animais pré-históricos no Paraná. E quando nos referimos a animais antediluvianos, não queremos tratar exatamente do animal politicus de Aristóteles. Este surgiu muito tempo depois. Disposto, até prova em contrário, a devolver a civilização à barbárie.
Ainda vai conseguir.
