quarta-feira, 6 novembro, 2024
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“No Brasil, a única causa natural dos incêndios são os raios”

Assessoria UFPR – Os biomas brasileiros e sua biodiversidade são as vítimas diretas das queimadas que escalaram em número no país a partir de meados de julho. De acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), considerando os períodos entre janeiro e agosto das últimas duas décadas, o ano de 2024 é o segundo com mais área queimada no país (mais de 224 mil km²), atrás somente de 2010 (quase 235 mil km²).

Nem todo fogo no Brasil é ilegal — sob condições, queimadas ainda são autorizadas para agricultura e, bem mais raramente, para manutenção de ecossistemas específicos. Segundo a terminologia da área, ligada à agricultura tradicional, a queima controlada, autorizada ou não, é a que segue critérios técnicos, os incêndios são problemáticos porque não há controle, e os focos de calor são pontos com temperatura acima de 47ºC captada por satélites, logo indicativos de presença do fogo.

Os números de focos de calor deste ano, porém, chamam atenção para condutas ilegais, visto que o fogo tem ameaçado unidades de conservação. O que, na prática, ocorre todos os anos no país, nem sempre em escala tão grande, mas sempre causando perdas. Muitas delas — caso da Área de Preservação Ambiental Triunfo do Xingu, no Pará, que fica na sensível Terra do Meio da Amazônia Legal — já são territórios pressionados por pecuária e mineração em qualquer época do ano.

Para o professor Alexandre França Tetto, coordenador do Laboratório de Incêndios Florestais (Firelab) e do Laboratório de Unidades de Conservação (Lucs) no Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o fato de áreas protegidas virarem cinza anualmente é o aspecto mais grave da descontinuidade de políticas de prevenção a incêndios florestais.

“Quando eventos extremos acontecem há, geralmente, uma comoção por parte da população, que leva políticos a se posicionarem rapidamente”, avalia. “Quando o fato deixa de ser notícia, não há um monitoramento desses encaminhamentos por parte da mídia ou da população, fazendo com que em cinco, dez anos, a história seja semelhante”.

24 anos em prevenção de incêndios

Há 24 anos no ramo de prevenção e combate a incêndios florestais, Tetto conhece por dentro o funcionamento de governos, empresas e de corporações militares e civis em torno do tema. Foi um dos condecorados no ano passado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Paraná, pelo trabalho na capacitação desses profissionais. Antes disso, foi servidor na pasta estadual de Agricultura, supervisor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná (Senar-PR) e consultor na área ambiental.

Ao alertar para as consequências da falta de prioridade pública, Tetto pondera que os incêndios florestais são ocorrências periódicas com certo grau de previsibilidade. Na avaliação dele, obedecem a ciclos em que condições meteorológicas se somam a determinadas condutas de exploração do solo. É para essas horas que a atuação política deveria ser enfatizada a fim de garantir prevenção e respostas rápidas.

“No Brasil a única causa natural dos incêndios são os raios, para todas as demais o homem está envolvido”.

“O que podemos fazer é tentar prevenir e combater [os incêndios] da forma mais eficiente possível. Além disso, embora isso esteja contido da prevenção, trabalhar para deixar os ambientes cada vez mais resilientes”, diz.

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