NA TOCA DO COELHO
(espaço de Antonio Carlos da Costa Coelho)
Os turistas japoneses são famosos por fotografarem tudo o que veem pela frente. Dizem até, que só conhecem os locais em que estiveram quando retornam das férias.
E os brasileiros são famosos por comprar. Comprar e contar vantagens sobre o valor pago pelos produtos, como se alguém estivesse muito interessado em saber que ele, aqui na terrinha, paga mais caro do que o esperto que sempre, invariavelmente, compra tudo mais barato. E, na loucura do gosto pelo consumo, há poucos dias, socialites curitibanas varreram as lojinhas da Índia. Pulseiras, brincos, panos de enrolar, tapetes, etc. Tudo o que viram, ia dos pregos às sacolas Luis Vuiton. Que Taj Mahal, Fonte de Agra ou Templo dos Macacos, que nada. Como gafanhotos, devoraram os penduricalhos expostos nas estreitas vielas de Bombaim, Calcutá ou Deli.
A certa altura da viagem, numa daquelas estradas indianas com intenso trânsito de carros, motos, vacas e rickshaw, o motorista atropelou um motociclista. Fugiu para evitar o linchamento. Prática tão comum quanto o estupro naquela civilização milenar tão decantada por alguns ocidentais.
Sem a presença do culpado, as senhoras foram todas levadas à delegacia local para prestar depoimento. Imaginem a indignação. A sala do agente policial foi tomada pelo burburinho das reclamações: o incomodo, o mau cheiro, a fumaça dos cigarros indianos e, é claro, a brusca interrupção das compras. Onde já se viu? – Mas uma das senhoras não perdeu a oportunidade. Viu oportunidade de comprar naquele ambiente super desagradável. No fundo da sala, num cantinho, assustada pelo falatório das curitibanas, havia uma mulher algemada. Presa, mas carregava, junto com as algemas, uma bela pulseira dourada. Ah! Não demorou muito para que uma ávida turista oferece uma nota de dólar pela peça à pobre prisioneira.
Se você, leitora, receber uma pulseira indiana de presente de Natal, talvez ela tenha pertencido a uma mulher indiana.